Disfarce da noite
Tu não conheces meu pensamento
Meus segredos, minha tocante vontade.
Sob esse céu de azul puxado
Nem o bálsamo das estrelas que me vem.
A moça que não conheço e me invoca é à tarde
Um astro de uma cidade, apenas uma cidade,
Sons coloridos das folhas silenciosas
Nuvens clareando o tempo, as eras...
Não conhece nem evoca a canção perdida
Minha inocência, nem meu singelo apelo.
Nem a forma dos gestos esvaecidos
Porque o poema não adormeceu no tempo.
Amanhã haverá novo entardecer...
Nessa droga, nesse choro misterioso,
Nesse orvalho que flui na minha volúpia
Cujo ouro brilha no interior do sol!
Seria a hora da grande lembrança?
A próxima tarde traz outro ser na alma
No frêmito da brisa o olhar perdido no mar
Como salmos de seios apontando o poente...
Mares de gelo cáustico a reverberar à tarde
A vagar plácidas caravelas negras
Castelos de diamante, anjos tranquilos.
No grande espelho vibram sinos de cristal.
À tarde com sua grande calmaria me vê
Instante de alegria em mim mesmo
Beija-me o olhar a criatura que me segue
Afaga-me o cabelo a canção que faz dormir.
Tu não conheces o disfarce da noite
Com suas canções presas nas casas
Ouço tua voz e os sons dos clarinetes
Nas fragrantes escalas cromáticas.
Não conheces minhas palavras de pulsações
Sonho sereno no bucolismo da alma
Rios tranquilos e florestas dormidas
Sobre a visão colossal dos telhados.
Es tu o prever da tarde, disfarce da noite
Não conhece nem acolhe minhas vontades
A tua calmaria, o teu céu e o teu brilho
São apenas palavras que contigo compartilho.