O lamento de Joana Carda
Era tarde.
Já era tarde.
Era tarde quando pensei ter ouvido um chamado.
Fui à janela, abri as portas, sai para a rua.
Ninguém chamava.
Eu tinha mesmo do meu amado ouvido seu canto?
Retornei para o interior.
Olhei uma vez mais
por entre a trama das cortinas de renda branca semicerradas.
Deixei a porta da sala entreaberta e escancarada fiquei.
É Nada. Conclui. Apenas o vento em ronda noturna triste.
Porquê o medo chama quem ainda duvida?
Na ciranda dos desalojados, onde ficou minha alegria?
Velho vento uivante, meu veneno.
Trago um grito abafado no peito.
A bem da verdade, de aprisionar meu sonho emudeço.
Feito passarinha presa que de vez em quando canta,
que de vez em quando conta que seu grande amor deságua longe.
Guardo bem guardado bem aqui dentro, atrelado à minha dúvida, meu lamento; sonhei com meu amado retornando nas mãos do vento.
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Baltazar Gonçalves