“Entre a Lona e o Cume”,
“...Quando achamos estar no mais alto monte da felicidade levados pelos amor sem limites, mal imaginamos que enquanto olhamos na direção em que o coração aponta, podemos num leve passo para enquadrar a imagem no foco, para eternizar este momento numa estática lembrança, cair no precipício do amor cego!
Hoje meu caminhar é pesado, minha alma um esquálido espectro a carregar minhas angústias e desespero, fora do corpo.
Um ser sem sombra!
Nuvens cinzas com descargas de raios e trovões sobre mim, despenca uma tempestade de incertezas e tristezas.
Continuo agarrado ao meu coração como quem busca em meio do naufrágio encontrar terra firme ou as palavras de amor e os maravilhosos momentos que me levaram ao píncaro do doce amar.
Para o poeta sair do píncaro ao naufrágio é um pulo, faz parte do combustível que o alimenta, mas para o Homem ou Mulher é condená-los ao rol dos desesperados.
Quando lemos os resultados e impactos desta condenação em verso, o lirismo toca corações.
Quando esta condenação é analisada sob o prisma da prosa, não há a beleza do lirismo, nem a sublimação do sofrer pelo bem querer.
O que na prosa se vê é uma alma penada!
Sem saber meu destino sigo afogando-me nas lágrimas que deveriam ser de alegrias, não mais compreendendo quando é noite ou dia, contando horas num relógio sem ponteiros, dormindo em cama de pregos e pisando sem calçados sobre os vidros das garrafas de Chandon e taças de cristais que serviram para pontuar momentos inesquecíveis.
Volto ao cume e daqui rememoro o salto que me trouxe a este ponto.
O único arrependimento é de não ter aproveitado melhor este salto.
Incorrigível apaixonado sigo daqui do alto da lona, onde o amar de mais me jogou num golpe.
Como um lutador que escuta o juiz abrir a contagem para encerrar a luta, após um golpe certeiro, mas que busca forças para levantar, voltar a luta, continuo na lona.
Esperançoso que no lugar de uma luva a mão que acariciou meu rosto e hoje me nocauteia, se estenda e me ajude a ficar de pé.
De pé para seguir amando, compartilhando este amar com meu bem-querer.
Continuo no cume, sob saraivadas de vento frio, descartado no paraíso dos amores improváveis, desintegrando-se vivo...”
(“Entre a Lona e o Cume”, by Carlos Ventura)