Círculo Vicioso
O círculo que não termina,
A roda da aliança empoeirada,
A liberdade que confina,
A vida que mata é inacabada.
A roda de um lobo alvejado por aço e pena,
O carrasco que carrega os fios de suas vítimas,
O juiz que bate o martelo in condena.
A doença que entranha em suas vísceras.
E a roda,
Gira em torno de um sol,
O sol girando em torno da prova,
Buscando a diferença entre vida e formol.
Como um farol,
Iluminando a escuridão invejável,
Perdido no giro dum casco de caracol,
Por uma resposta indesejável.
Detestável quanto amargo a vida de réu,
Procurando forças quanto qualquer céu,
A felicidade de retirar teu véu,
O doce mais doce que o mel,
Feito de fel.
Entre ferro e fogo,
Entre areia e lodo,
Sufoca,
Enforca,
Trinca a rebimboca,
E da boca,
Palavras mais físicas que o fictício,
Traição ou armistício?
De qualquer veneno,
De qualquer sereno,
De qualquer flecha congelante,
De qualquer espada flamejante,
Mordida,
Ou ferida.
Seja empalar,
Seja perfurar,
Até mesmo enforcar,
Há vontade de gritar.
Mas se mesmo uma farpa lhe aflinge,
Finjo que nada me atinge,
Pois não há dor suprema,
Que a agonia de meus olhos ver usted sofrer,
Eu prefiro morrer,
E já foram tantas vidas.
Tudo isso entre cicatrizes e feridas,
De vidas ganhas e perdidas,
Em prol de um infinito recomeço,
Que não sei se mereço.
Mas se estou aqui, mereci,
Se chorei é porque sofri,
Se morri, eu renasci,
Vivi, vivo e venci.
Se toda morte de Minh'alma for sinal de vida empírica,
Transmite a mim teu bom olhar,
Pois se a vida é como o ar,
Meu pulmão ainda respira.
Sigo vagando nesta trilha entre destinos,
Por mais que sejam de cabeços distintos,
Sigo de ponta em ponta nos círculos,
Viciosamente em meus versículos.
Mas não importam quantas vidas,
Permanece o eterno juramento,
De pessoas queridas em idas e vindas,
O único círculo que me importa é do meu anel de casamento.