Amiga

Voraz coragem,
eis o que não me rareia,
cedros e muros de puro
medo,
eis o que me sobra.

De um lado, sem sombras,
me abato às figueiras
pomposas,
e lembranças as quais
batizo,
em pleno sol morno
de outono,
sem festas de rainhas,
me plaino, descalço, ao
desafinado ano de 1800.

Rara fuga dos covardes
no absinto da cor:
me volupeio no corcel
e me rendo, indefeso,
às rendas e imprecisas
verdades, - verdades
tontas - calço dos deuses,
e que me acalentam suspiros
de dó:
um mundo só,
que só roda pra seu lado:
foi o que recebi.

Ah! vã esperança de
conquista
neste aval de
memórias semi-mortas!

Cá estou eu, avelado
às macieiras cujo maior
evento é
querer seus lábios
em avis e mármore puro,
mas quanto acalenta !

Cá estou eu, dissipado,
algoz e dissidente
com puro medo
de voltar a perambular
pelo teu corpo
e voltar a gostar.

E por favor, no almiscar do sol,
não se lembre mais de mim,
e, nunca, augusto,
- rei dos césares -
nunca me deixe!
José Kappel
Enviado por José Kappel em 12/06/2019
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