50 anos

Daqui 50 anos seremos velhos

Tão velhos que talvez nos falte a memória

A visão, quem sabe

Mas as folhas que escrevemos, ficam

As declarações de amor, as brigas

As flores secas e os perfumes tardios

O amor que se manifesta a distância

As heranças das noites de estio

Nossos netos, em comum ou não

Encontrarão, sob aquela gaveta quebrada

O caderno de notas

Verão ali as missivas dos nossos afetos

As lagrimas pingadas

As palavras que nunca chegaram

Os gritos de angústia ou prazer guardados

Seremos atores de um dramático epitáfio

50 anos em que, talvez, sejamos meros retratos de cabeceira

Os meninos, já crescidos, quem sabe preservam os nossos traços

Seu sorriso, meu olhar, sua boca, minhas mãos

Talvez não sejam irmãos

Amigos, quem sabe, se o destino assim quiser

E os registros petrificados em 3 x 4

Dos rostos viçosos

Imagino já a dedicatória em caneta bico de pena

“Do seu amor” A.C.

E lá se colocam as minhocas na cabeça

Se virem eles para descobrir o anagrama!

Mas somente se Deus tomou para si a pena da história

E decidiu intervir nesse propício enleio

Caso vogue o livre arbítrio na trama

Bem capaz que logo matem a charada

50 anos em folhas amarelas

Espero eu, que também de almas atadas

Carol S Antunes
Enviado por Carol S Antunes em 11/06/2019
Código do texto: T6670478
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