50 anos
Daqui 50 anos seremos velhos
Tão velhos que talvez nos falte a memória
A visão, quem sabe
Mas as folhas que escrevemos, ficam
As declarações de amor, as brigas
As flores secas e os perfumes tardios
O amor que se manifesta a distância
As heranças das noites de estio
Nossos netos, em comum ou não
Encontrarão, sob aquela gaveta quebrada
O caderno de notas
Verão ali as missivas dos nossos afetos
As lagrimas pingadas
As palavras que nunca chegaram
Os gritos de angústia ou prazer guardados
Seremos atores de um dramático epitáfio
50 anos em que, talvez, sejamos meros retratos de cabeceira
Os meninos, já crescidos, quem sabe preservam os nossos traços
Seu sorriso, meu olhar, sua boca, minhas mãos
Talvez não sejam irmãos
Amigos, quem sabe, se o destino assim quiser
E os registros petrificados em 3 x 4
Dos rostos viçosos
Imagino já a dedicatória em caneta bico de pena
“Do seu amor” A.C.
E lá se colocam as minhocas na cabeça
Se virem eles para descobrir o anagrama!
Mas somente se Deus tomou para si a pena da história
E decidiu intervir nesse propício enleio
Caso vogue o livre arbítrio na trama
Bem capaz que logo matem a charada
50 anos em folhas amarelas
Espero eu, que também de almas atadas