Hipócrita Divino X: Deus chorou fogo em Minh'alma
O cosmos brilha rubro,
Cobre se desfaz,
É frio e eu não me cubro,
A mão divina traz a paz.
Mão que traz inverno tão evidente,
Me leva a frio tão ardente,
Corrói qualquer chama congelante,
Demonstra solitário a noite retumbante,
Desse cemitério de mortos do passado,
Passeia-se por tumbas trincadas.
Trinca enchida com cal,
Enchida com sal,
Enchida com mal,
Enchida com sangue quente,
Enchida de semente,
E só há um ar de contente,
Daqueles que nunca voltarão.
Nessa noite de sol engolido a breu,
Que do céu desceu,
Caindo sobre montes floridos,
Fazendo ecos doloridos,
Esquecidos,
Da própria promessa profana,
Diante dessa cama,
Há sangue seco tão amado.
Da igreja tem passos na porcelana esbranquiçada,
De uma alma amaldiçoada,
Denegra todo chão santo,
Rastejando a sombra do pilar de todo canto,
A casa de Deus aceita até o mais infectado,
Da doença do filho ingrato,
Insensato,
Não deixa ao inimigo barato.
Piso pés firmes ao chão,
Pois tinha medo de um alçapão,
Qual custo refere-se ao medo,
Tremia até o tutano do meu esqueleto.
E uivava em silencio com dor,
Prostrava-me ao pés ensanguentados,
Cheios de calos,
Cheios de sujeira,
Escondidos de tanta poeira,
Segurava com sangue escorrendo,
Morrendo,
Pedi que fosse a mim.
O custo de cada dia é imenso,
A crucificação injusta,
Julgamento propenso,
Que toda ceia que o mestre chama me frustra,
Perdão algum é suficiente para retribuir,
O que o coração humano deixou de servir,
E em seus suspiros inflados,
Não se manteve améns calados,
Pediu que a única desculpa possível,
Seria uma vida imperecível.
Logo eu corvo,
Me elevou a linha da visão,
Fez de novo,
Me afogou em unção,
Do teu fogo em brasa entregou incêndio,
Fez arder as asas desse ser.
Agoniante és tua despedida e reencontro,
Parece que eu estou pronto,
Para aceitar dádiva celeste,
Fazer pagar com a vida o que fizeste.
Chega momentos que tua graça sobe pelos céus,
Eu voo através dos véus,
O Ícaro que me fizeste começa a pesar,
E tentando tua graça alcançar,
Elas derretem novamente,
Brilho que cega,
Luz que causa sombra a mim,
E como um ser feito para fim,
Caiu-me serafim,
Será fim desta insanidade,
Ser tão bom com quem sofre de verdade.
Continuo corvo modesto,
Tenho medo e me testo,
Todo dia procurando motivo para superar,
Mesmo que vá me acabar,
Da mesma festa que apaga as luzes,
Quero dançar em meio as cruzes,
Afastando qualquer cadáver não enterrado,
A fim de ver o sol avermelhado,
Dos meus olhos que acendem na raridade.
Tenho tantos sonhos que entrego em teus braços,
Tantas feridas que envolvi em laços,
Todavia solidões que se perderam em abraços,
O custo da vitória em seus tempos e espaços,
Areia do tempo que corre seca,
Me enlouquece a deixa,
Nesse caminho tortuoso,
Fico curioso,
Com qual a próxima benção entregue.
Meus calos estão nascendo agora,
Pois vim de fora,
Nômade da própria casa,
Já caiu em todo tipo de desgraça.
Meu Deus até quando meu sonho mor não acontecerá,
Já foi a profetizar,
Já está a caminhar,
Mas Teu tudo a seu tempo,
No tempo de Deus é infinito,
E se eu espero,
Não me autentifico,
Somente imito,
Não quero ser só um mito,
Ser lembrado como filho.
Dói não ter ouro na mão esquerda,
Me traz tanta perda,
Sofro a cada dia sem que meu amor possa ser superior,
Me ajuda contra rotineira dor.
Tantos sonhos egoístas,
E só te pedi duas coisas da minha alma,
Estou tendo tanta calma,
Que de paciência me torna falha,
Peço desculpas pela vontade,
Mas é de verdade.
Aproximei-me de tua voz?
Se eu entender a mão poderei tocar-lhe a face?
Me colocaria em nós?
Transformaria o Eu e Ela em Nós?
Transbordarei meu cálice?
Mesmo louco em própria lucidez,
Faria-me feliz de vez?
Sou somente servo e não tenho direito de pedir,
Mas deu-me o dom de sonhar,
Enquanto vou-me a ruir,
Não me deixará perdido nesse emaranhar,
Dúvidas constantes a qual minha última refinaria,
Quanto estou lhe custando para ser obra prima.
De redenção me coloquei,
Coroado como rei,
Me rasguei,
Me cortei,
Desapareci e retornei,
E eu sei,
Conquanto mistério prepara a teu destino.
Toda vez que tento mudar n’algo que não agrada,
Aperta meu coração com a mão calejada,
Sabe que ele bombeia e sem ele não sou nada,
Sopra teu vento em rajada,
Frio a refrescar,
Forte a me transformar,
Faz poeira.
Acredito que egoísta sou por pedir o mesmo repetidamente,
Mas sinceramente,
É meu sonho a se tornar realidade,
Para minha idade,
É benção e não vaidade,
Que não me deixe a Morte levar,
Antes de todo sonho meu e dela realizar,
Primeiramente de casar,
Família formar,
E anos cravados em cicatrizes na forma de escultura,
Em cima de pilares,
Em cima de cadáveres,
De inimigos e amigos,
Que foram amados amargamente,
Pelo que a vida me tirou.
O atual castelo,
Em tinta pastel,
Encontra em florido pedaço do céu,
E somente há uma flor negra,
De angústia contratempo.
Tentei dormir e não deixaste,
Antes que eu me deitasse,
Preferiu que sentisse no fundo temor,
Esse tipo de amor,
Sei que tocou e me assustou,
Pois teu fogo me alcançou,
Brilhando como aurora boreal,
Fez-se mais uma vez em um novo sentido humano,
Meu Deus real.
Não mereço tanta serventia,
Não mereço as tramas do destino em ironia,
Mas por vir até mim pessoalmente,
Com fogo de mil cores quentes,
Está mais que clarividente,
O ouro em teu fogo ardente,
Que me faz sangrar como um novo crente.
Enquanto dorme, o mal dorme,
Enquanto luta, o mal dorme,
Enquanto sangra, o mal dorme,
Enquanto perde, o mal dorme e sorri,
Mas nessa penumbra infinita,
O que mais me faz tremer,
É o quanto a escuridão desaprovou,
Sinto cheiro de o velho morrer,
E com meu novo ser,
A velha Sombria voltou,
Deus veio com teus olhos em verdade,
Deus veio com teu sangue em trilha,
E assim me pegou em meio ao desamor:
Ele chorou com teus olhos em chama,
Me fez chorar na minha cama,
Que estava preparado e não percebi,
Todas as vezes para melhorar,
Eu morri,
E renasci.
O fogo divino no meu coração permitira agora ir dormir.