SONETO DO POETA ACAMADO
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Dorme a garrafa de água mineral
quase seca atrás do telefone
que, em luz embaçada feita cone,
jaz silencioso em cima dum jornal.
Passam lentas as horas sem descanso
numa cama que de amor já foi febril,
mas que agora –proscrita- só se abriu
para abrigo dum corpo lasso e manso.
O remédio adocicado não abranda
a aflição da garganta arrebentada,
muito menos o pesar dum coração:
-no trajeto maçante que não anda
o delírio divisa a doce fada
e seu lábios de divina perdição.