Cena dela
Sou um observador bastante atento ao meu objeto de desejo. Como adoro observar você.
Te flagrei distraída lendo um livro qualquer, na poltrona perto da janela, com o sol a iluminar seus cachos louros preso num coque frouxo, com alguns fios emoldurando seu rosto e os óculos grandes refletindo o brilho de seus olhos castanhos fascinado pela viagem que as palavras do livro lhe proporcionam, atenta a cada página sem pestanejar, fazendo caretas como se vivesse cada reação do personagem, entreabrindo os lábios vermelhos murmurando coisas inteligíveis, vestindo uma camisa velha de algodão minha, sem sutiã e com a calcinha “de vovó”, com as pernas cruzadas e a xícara de café fresquinho, com a gata recostada na poltrona, preguiçosamente acompanhando o movimento de seus olhos, olhos castanhos que incendeiam tudo o que observa, face que denota a beleza com o cansaço da vida, pele branca que destoa o cenário do nosso quarto, pacífico e quieto, como se não quisesse atrapalhar a calmaria que você emana, na poltrona do nosso quarto você existe e parece tão surrealista, que não consigo encarar a rotina e me sentir tão comum, eu te olho demoradamente querendo gravar cada pedacinho dessa cena que me revigorará nos dias mais exaustivos, apenas desejo que você nasça em mim todos os dias, com sua luz bonita e magnetismo que me puxa para ti, acho que é isso que os poetas chamam de amor.
Fiz um retrato seu. Mas ele não consegue reproduzir quem tu és, minha amada.