Café frio

O café na xícara esfria

Estamos de lados opostos

Na mesa, na vida

Apenas nos encaramos

Não sabemos o que falar

Não sabemos como agir

"Foi por isso que decidi

que ficaria com ele, Daniel"

Você diz, a raiva cresce

Não adianta explicar

O que passou, passou

Porém a dor nunca cessa

"O que estamos tentando aqui?"

Pergunto calmo, tranquilo

Não tenho pressa

"Eu também não sei"

Responde no mesmo tom distante

De quando aceitou meu convite

Sua colher mergulha no café

O creme é misturado ao líquido

que não está mais quente

Gira, gira, então emerge

Você a leva aos lábios

Quero ser a maldita colher

Entre nós há tantas coisas não ditas

Palavras inexatas, enganos, mentiras

Silencio que não vai embora

"O que ainda somos?"

Ela não responde de imediato

Também não há resposta em seus poemas

"O que ainda somos, Ísis?"

Seu olhar se alarma

Por que sinto raiva

"Nada, Daniel. Não somos nada.

Também nunca fomos.

Sou apenas teu delírio"

"Sou a poesia das tuas madrugadas

Sou a tua inspiração, tua musa

Sou aquela para quem corre

Todo suas mãos que seguram a haste da xícara

"Você é real, sabe disso, D.

Sabe que o que sentimos também é".

"Eu não sei" Responde, tem medo.

"Não vou continuar aqui declarando

o meu amor por uma covarde"

Uma nota pousa sobre a mesa

irritado, me afasto

Conto um, dois, três passos

"Nunca foi amor, Baka"

Ouço-a gritar ao longe

"Mas também nunca foi mentira".