Lembranças
Aquele amarelo-ouro de seus cabelos foi como luz permeando a escuridão. E o balanço do véu em meio ao vento da manhã de Junho, trouxe-lhe mais uma vez a certeza do amor e da pureza personificada. A melodia do piano e os cantos de sua boca estendidos trabalhavam em uníssono enquanto ela, tão graciosamente coberta naquele tecido branco e pesado, caminhava para seus braços. Mas de relance, não foi a moça jovial à sua frente quem seus olhos viram. O perfume que alcançava suas narinas agora era outro. E como havia ansiado por sentí-lo de novo! Sentir sua pele quente na escuridão da noite e na claridade do abajur aceso na cômoda. Ouvir o tom tímido de sua voz e decifrar a tessitura doce de seu riso. Poderia passear as mãos em suas mechas negras para fazê-la dormir assim que finalmente despensassem os convidados e as responsabilidades. Mas o desconsolo e o martírio atingiram sua alma, como flecha atinge o alvo, no instante em que sua íris dilatou com a volta à realidade. Não encontrou seus dedos finos para colocar-lhe uma aliança. E não seria com ela com quem se ajoelharia no altar e brindaria champanhe na banheira ao cair da noite. Jamais voltaria a sentir o aroma de baunilha de seus cabelos. E ele soube disso há exatos seis anos atrás, no momento em que ela saira pela porta e não mais voltou.