Não sou para o louvor do amor perdido
Não sou para o louvor do amor perdido
desse que os infelizes amam ter
como que amando a dor que têm sentido
em troca de um poema comovido
que mais exalta quem melhor sofrer.
Não sou para o louvor do sangue exposto.
Muito antes quero tê-la à minha cama
torpendo-me da escrita o pífio gosto
a ser a própria angústia em carne e osso
ascendendo a minha alma ao Céu, da Chama.
Desejo a minha musa inspiradora
na terra na qual piso todo dia,
mais gente que entidade redentora
sem feição individualizadora,
como se dá na velha poesia.
Com isso, saberei mais sobre o amor
do que há nas falsas juras enfeitadas
e amarei com mais mágico fervor,
mesmo que o verso perca sua cor,
e terei mais sinceras as palavras.
Desgraçados aqueles que sofreram...
O Corvo não compensa a viuvez!
Miseráveis aqueles que romperam
com seu sonho de amor, porque perderam,
pela esmola da arte, a sensatez!
Bendito aquele nome indiferente
que, junto à carne, em vermes se esqueceu
mas que em vida sorriu contentamente
a cada noite, a cada tarde quente
porque o seu amor era mesmo seu.
Deus queira que com meu amor à Abelha
eu possa me tornar um homem típico,
manso e servil a Cristo, branca ovelha,
mas que à manhã sorria orelha a orelha
por tê-la no meu leito, ao mundo físico.
Que sejam os meus versos mais um mimo
àquela que, gentil, me trouxe a graça
e não o badalar de um santo sino
no ouvido de algum crítico de tino
cantando: fez beleza da desgraça!
Imploro, Deus, permite a vida rasa,
distante dos soldados do ideal;
meu mundo deve estar dentro de casa,
meu sonho é com raiz e não com asa,
tornar-me puro feito um vegetal.
Pois sou para o louvor do amor vivido,
desse que os infelizes querem ter
mas perdem, pois procuram o sentido
escondido no verso comovido
que mais exalta quem melhor sofrer.
21, 22/5/2019
28/11/2018
13/11/2018
Maio de 2018
Poema iniciado no ano passado. Finalmente tive inspiração para acabá-lo.