LEMBRANÇAS DE UM VAGO OLHAR
Amo demais a beleza da tarde,
que faz o sol mais arder de amor,
sinto calor, venha chuva, me invade,
cai no jardim, vem molhar toda flor.
Eu amo tanto o escuro da noite,
é seu prazer inverter luz do dia,
mesmo a trazer obscuro açoite,
minora o pranto de quem já sofria.
Eu quero muito a vil madrugada,
morte de quem, mais sofrer, não queria,
com seu pudor, nobre senso de nada,
sorte de quem, na calçada, dormia.
Lembro-me agora do giz da manhã,
luz que chorava enquanto eu sorria,
doce momento de vida mais sã,
primeira história, início do dia.