AO POETA

Teu sono não dorme,

vives insone

delirando pelo mundo

a gritar tua dor espástica

ou a beleza nua e crua

que enxergas no escuro

[ o clarão

da escuridão]

Há no teu gemido

um gozo ou o ardor

da lâmina fria

que suaviza tua vida

[nascer

e morrer]

Não se assombre

ao revisitar teus mortos,

eles ainda vivem

nas rimas do cotidiano

e na insistência natural

do existir

[no sim

e no não]

No varanda aos raios

do primeiro sol

lerás as mesmas notícias

impressas no jornal matinal

e agora outros fonemas

versejam a mesma poesia

[a velha

novidade]

Verás então

na velocidade

de um cometa

o clarão na escuridão

entre o viver e o morrer

entre o sim e não