Hipócrita Divino VIII: Dessas Promessas, Dessas Renúncias, Dessas Sangrias
De tanto voar ao encontro da cordilheira,
Achaste um lugar sem eira nem beira,
Diante de toda a constelação costumeira,
Mas que a última vez se fez a primeira.
De fato,
Eu não estava preparado,
Estava tão acabado,
Tão envergonhado,
Que o único propósito de voar foi encontrar asas ao chão,
Pois não estava mais em minha jurisdição,
Eram tantos planos e vias que estava em confusão,
O caos que Deus criou, estava em divina ação.
As cores faziam nébulas em contrastes de supernova,
Unicamente colocando a prosa em prova,
Igual um prato que se faz com sal a gosto,
Me parecia a chuva de agosto,
Num pequeno e silhueto galáctico esboço,
Pela primeira vez eu consegui ver seu rosto.
Distorcendo toda e qualquer realidade que lhe tocava a face,
Fez em mim tão grande temor que foram sentimentos a massacre,
Seu olhar abria-se de acre em acre,
Com um só mexer poderia me tirar o próprio lacre.
Os olhos de cores do arco-íris e cores que virão,
Voz de mil estrondos de uma erupção,
Cabelos que emaranhavam tudo que toca o ribeirão,
O primeiro e único criador da canção.
De teu brilho as asas escondem de ti meu rosto,
Vergonha de meu ser decomposto,
Mas já estava falando e de joelho exposto,
Usei a mim mesmo como desculpa de pressuposto.
De coragem era oposto,
Sentia um encosto,
Querendo da minha alma meu maior deposto.
Do quão mísero era meu ser em breve momentaneidade,
Estava vivo não por misericórdia, mas por piedade,
Segurava meu coração e só queria a verdade,
Então comecei a falar com sinceridade.
-Te renúncias a humanidade,
Toda e qualquer gota de sanidade,
Qualquer desejo ou vontade,
Toda a sua singularidade?
-Renunciar-me-ei,
Até o fim eu irei,
Por ti meu rei,
E àquela que sempre amarei.
De toda e qualquer senso de cor foi me tirado,
De todo e qualquer pensamento foi feito a parte,
Me senti inanimado,
Senti o vazio de Marte.
-Te renunciará a tua carne de luxúria,
Não terá nenhuma lamúria,
Nem cair em vida espúria,
Deixará cair toda injúria?
-Renunciar-me-ei,
Até o fim eu irei,
Por ti meu rei,
E àquela que sempre amarei.
Arrastando toda a aura vermelha em meu manto,
Me devolveu o abençoado canto,
Virei inteiro e não mais canto,
Senti que toda dor é por enquanto,
Me encontrando em músculos e tendões,
Pulsando em vívidas vibrações.
-Renunciará, filho meu que venho a Mim,
Não usarias seu punho para nenhum profano fim,
Não teria sangue carmesim,
De hoje em diante e a todo dia assim?
-Renunciar-me-ei,
Até o fim eu irei,
Por ti meu rei,
E àquela que sempre amarei.
Das garras e unhas escorriam-lhe a negritude,
Toda e qualquer torpe atitude,
Rasgando qualquer ilicitude,
Trazendo paz na alma em sua infinitude,
Do sangue substituiu em lágrimas,
Enxergando a tronos de sua altíssimas,
Com divindades detentoras personalíssimas.
-Te renunciaria qualquer osso que traga rigidez,
O modo que faria de ficar em pé em sua palidez,
De mecanizar movimentos em sua cortês?
Confiaria que eu vos seguraria todos vocês?
-Renunciar-me-ei,
Até o fim eu irei,
Por ti meu rei,
E àquela que sempre amarei.
Do cadáver só sobrara teu íntimo,
Seu interior em modo mais tímido,
Só ouvia seu tinindo,
O modo d’alma dizer que está sorrindo.
Te renunciaria de tua essência,
De toda a sua crença,
Tua esfera da convivência,
Toda a sua humana ciência?
-Renunciar-me-ei,
Até o fim eu irei,
Por ti meu rei,
E àquela que sempre amarei.
E do humano sobrou-lhe a face bestial,
O corvo que encarava o Ser Celestial,
Com o temor quase abissal,
Querendo conhecer de forma incondicional.
-Renunciará de teu jeito livre enquanto filho da pena,
Que lhe sustentará de toda pena,
Que lhe afastará da má pena,
Nunca deixará que a vida contigo condena?
-Renunciar-me-ei,
Até o fim eu irei,
Por ti meu rei,
E àquela que sempre amarei.
De tudo que Ele tirou só sobrou alma,
Sem nada,
De forma tão calma,
Rodeado por palma.
Renunciaria de trevas e luz,
Tudo aquilo que afronta ou seduz,
Que lhe cega ou reluz,
Carregará a própria cruz?
-Renunciar-me-ei,
Até o fim eu irei,
Por ti meu rei,
E àquela que sempre amarei.
De tudo que se tinha tornou-se oco,
Estava se sentindo louco,
Era um simples esboço,
Que queimava como fogo.
Renunciaria de todo mundo,
Esquecer o viver moribundo,
Sem medo do submundo,
Desse substabelecimento imundo?
-Renunciar-me-ei,
Até o fim eu irei,
Por ti meu rei,
E àquela que sempre amarei.
-De nada lhe deixei,
Nem lhe disse o que vos serei,
Não te fiz o próprio rei,
Como ainda diz que me seguirei?
-Cordialmente tenho todo o meu amor,
Mesmo que seja levado a varejo, gratuitamente ou em penhor,
Antes não ter nada e sobrar amor do que tudo e só sentir dor,
É meu maior motivo de sentir sempre esse ardor,
Subir minha voz a garganta com todo esse louvor.
-Te renunciarias então tudo que lhe tem em amor?
Para nunca mais sentir dor,
Viver eternamente na casa do senhor,
Como meu filho do peito e de socorro a teu clamor?
-Jamais poderei fazer,
Pois és meu amor que me conheço por ser,
É o que me faz querer viver,
E o que também me traz a morte por merecer.
-Ficaria com meu eterno amor e renunciaria àquela que lhe dei?
Nunca poderia ser o teu rei,
Seria Eu e ti, eu sei,
Mas que irrecusável oferta tem coragem de dizer que vos recusei?
-De fato, novamente lhe entrego um desagrado,
Pois é um matrimônio consagrado,
Quero carregar esse cargo,
Estar sempre de ambos os lados.
- Fui eu quem te teceu.
Diz, que é teu,
Tudo que de tua boca sai será seu,
Por que Eu sou Eu,
E minha palavra acontecerá, acontece e aconteceu.
-Daquilo que é tua flor, para mim é um jardim,
Daquilo que é teu vaso, para mim é serafim,
Aquilo que é teu meio, para mim é fim,
O quanto ela Lhe quer perto, quero-a perto de mim.
De uma radiante estrela, por mim ela é todo meu teto estrelado,
De sua linda princesa, ela é toda minha majestade,
Em sua limitada vida, para mim é uma eternidade,
De Ti é um pedaço, mas de mim é meu integral,
De Ti é filha, de mim é parceira angelical,
Não tem mulher igual,
Seria rudeza demais pedir a mão nesse destino matrimonial?
-Sou a ti apresentado Pai,
Sou a ti apresentado Deus,
Sou a ti apresentado Senhor,
Sou a ti apresentado Estro,
Sou a ti apresentado Maestro,
E teu único desejo a minha infinita benevolência,
Poderia desejar um mundo sem violência,
Poderia desejar a mais pura essência,
Poderia desejar vida sem decadência,
Dinheiro em toda a sua descendência,
Mas tudo que me pediu foi uma aliança,
Um amor de criança,
Uma parceira de dança,
Tua autoconfiança,
Lhe traz equilíbrio na balança,
O escudo da sua lança,
Que a teu amor alcança?
-Meu singelo desejo ao teu ver parece tão inabitual,
Mas alcançou meu ser original,
Me ensinou a ser invulgar,
Mostrou-me o meu lugar,
Me deu um lar,
Ensinou a te, me e lhe amar,
O que mais eu poderia desejar,
A não ser esse amor para sempre continuar?
Coração lhe tem e pulsa com tambor,
Alma queima que lhe traz todo ardor,
Corpo mexe que lhe faz peregrinador,
Sentimento tens que traz amor e dor,
Vida tem pois está junta com tal cantor,
É hora de lhe retribuir esse amor,
Acorde, por favor.
É mais uma madrugada,
Com um sonho de morte estripada,
Mais uma loucura nessa mente conturbada,
Mas de vontade realizada,
Se toda vez morrer significa salvar,
Estou indo me deixar,
Para mais uma vez me deixar levar,
E ter sempre alguém para bom dia dar,
Então, é hora de acordar,
Acordar para que o futuro não seja qualquer,
Acordar do lado de quem eu fiz minha mulher,
Acordar e mostrar que meu viver não está em penhora,
Meu mais doce fruto de amora,
Será sonho acordado,
casado com minha eterna senhora.
Se Deus quer,
Quem sou eu para não querer,
Querer meu peito no teu,
Meu eu sendo seu,
E meu tudo sendo meu,
Aconteceu,
Que eu te amo.