Hipócrita Divino VII: Teus silêncios são minha soberba punição
Em quadros estelares eu vejo o mais alto trono no mais alto lugar,
Enquanto há três coroas que me perseguem com os olhos para me julgar,
A tua visão como o Sol me machuca mais que qualquer crucificar,
É a dor de um silêncio que começa lentamente me matar.
Que não fala uma palavra fisicamente,
Fica ali na minha mente,
Me destrói descontente,
E nem mesmo 160 páginas nem 50.000 palavras podem mudar,
Que as vezes eu esqueço como amar.
E nesse esquecimento, dondé que vem os meus sentimentos,
Donde vem meus amores ciumentos,
Meus descontentamentos,
Porque a balança só habita dor,
Contrabalanceando com o amor.
São duas primazias que me tornam alguém confuso,
Perco-me em tanto fuso,
É tanta responsabilidade que fico furioso,
Deveria estar amando mas fico no ocioso,
Qual mente não há a maldição do curioso?
Pela palavra ser meu esconderijo, meu refúgio,
Eu fujo e me coloco como desaparecido,
Não deveria deixar nenhum vestígio,
Mas é discreto igual homem estarrecido.
Nesse percurso eu me vejo entre rosas e seus estrepes,
Debaixo de tetos mequetrefes,
Walking in my own steps,
Em meio de artimanhas serelepes.
Cismo de voar e tentar tocar o pé do Senhor,
Mas esse meu próprio desamor,
Me faz transformar naquilo que não agrada superior,
Caindo do mais alto ao interior.
Lá se vai o pássaro corvino,
Manchado mais que pano bêbado em vinho,
De céu a mar peregrino,
Eterno sólido dançarino,
Da cor de tombo cadente sulfurino.
Encontro-me ensopado em água doce em chuva salgada,
A que me trazes essa hora amargurada,
De consciência imaculada,
Mas perdi minha aparência desumanizada,
De corvo a homem de uma vez,
Do jeito que Deus me fez,
Minha metamorfose se desfez,
E eu despenco do meu sonho mais uma vez.
Na minha queda eu vejo-me perdendo penas,
Vejo-me de garras indo a pernas,
As mãos e os dedos pálidos de formas singelas,
Os piados em cordas vocais tagarelas,
Os cabelos negros como obsidiana,
De encontro com a água em sua gana,
Vou perdendo todo o gama,
Faço das profundezas a minha cama.
Meu pé toca o chão macio e sinto a arrelia,
Por mais que me rasga, sorria,
Quem mais me diria,
Que um dia me cortaria,
Pelo coral das profundezas da Oceania.
No bater de braços eu procuro ar na tona,
O frio do inverno todo ar me toma,
Num puxo de fora d’gua meus pulmões ardem,
Procuro terra ou areia antes que as águas me matem.
De homem a fera ave,
Nem com minhas asas consigo que me cave,
As águas me enrijecem ante que me lavem,
Todas as minhas esperanças por favor não se acabem.
Eu me pergunto ao bater asas e espalhar o molhado,
Por que Jesus mantém de apático diante meu ato?
Quão só consigo sentir piedade diante de todo o meu machucado,
Machuco-me ou machuco-te, estou desarranjado.
Arranjo forças para mover-me outra vez a planar a abóbada celeste,
Não necessito de pedir mais paciência do que já me fizeste,
Por mais que eu seja um filho cafajeste,
Que toda essa dor seja apenas um teste.
Toda dor é momentânea,
Assim como existe esperança até na última caverna subterrânea,
Dor é substância contemporânea,
De perpetuação fracionada, mas de duração instantânea.
Todo dia é uma forma de entrar em consenso,
Tentar ao máximo chegar a um senso,
Mas esses dias o traçado tênue se encontra tão tenso,
Que me amigo ombro é secundário ao lenço.
Que dia Deus parará de mostrar sua cara de perdão para mim,
Serei forçado a uma culpa sem fim?
Por mais que bom eu pareça ser,
Só consigo receber misericórdia em teu parecer,
E esse modo me faz parecer,
Mas é o único rosto que consegue mostrar aos teus oriundos,
Se não seriamos marcados em amargos profundos.
Imaginar Deus virar o rosto traz assombração a qualquer ser,
Que preferem inventar mentiras de si que do Pai,
Pois tua desaprovação é pior que o perecer,
Mais vale o amor paterno que o interno conservai,
E vai,
Vai indo e vai fluindo,
A busca eterna de forma limitada a teu ser sorrindo.
O quão ruim devo ser para que se afastes do que lhe efetuei,
O quão traidor devo ser para que se retire como meu Rei,
O quão negativo devo ser para que tua graça se vá,
O quão humano devo ser para que teu perdão não me alcançará.
Mesmo no teu rosto de amor eterno eu vejo tanta tristeza,
Por todas as coisas que me avisou e eu não executei com destreza,
Que tenha que me tratar com mais rudeza,
Se faça mais frio que o azul turquesa,
Oh minha realeza,
Me realiza e me faça o melhor,
Porque do melhor eu já me sinto pior,
Quando poderei me sentir satisfeito até o ápice,
Podendo fazer transbordar meu próprio cálice,
Nunca recebi um cale-se,
Mas não é atitude que se tentasse.
Até quando tentarei quebrar minhas asas,
De quantas casas,
Terei que me refugiar,
Descansar,
Descartar,
Me queimar,
Para simplesmente poder-lhe tocar.
Pois derrama em mim o que eu não mereço,
Não me cobras o que foi pago em alto preço,
Não me abandonas mesmo que não tenha suficiente apreço,
De nada tão bom eu desmereço,
Mas aos poucos em culpa me desapareço,
E só há dois seres que eu me transpareço.
Tudo que peço é o quão ruim sou poça me perdoar,
O quão me encho eu possa me doar,
De alguém poder me beber quando a sede chegar,
Peço que me faça chegar até ela e a todos os seus problemas.
Ser o primeiro a poder entender o que lhe tanto deixa aflita,
O que tanto dentro dela se conflita,
A quanto minha atitude lhe irrita,
Não quero ser eu mesmo e nunca me imita,
Pois o único cheiro que me resta é de mirra.
Mirra de teu perfume e dela também,
Aqueles que eu amo como ninguém.
Se eu não conseguir chegar aos teus pés,
Não me faças como todas as ralés,
Deixe que eu a apoie nas costas ensanguentadas,
Podendo ela chegar a tuas portas douradas.
Me faz melhor em qualquer situação,
Faz-me dono de minha ação,
Que a única e perpétua emoção,
Seja o meu amor de coração,
Não importa quantas vezes deva dar ou receber perdão,
Que me perca ou perca tudo,
Menos a nossa união.
Quero deixar morrer meu eu antigo,
Quero crescer a que tanto me instigo,
Deixar a raiva em modo a que mitigo,
Pois teu silencio ou tua ausência é meu maior castigo.
Quero ser como es comigo,
Para poder ser contigo.
Fadigando e arfando loucamente,
Minha louca mente és a ti clemente,
Não preciso que me seja vidente,
Mas veja em mim claramente,
Que possa ser melhor.
Já se foi o tempo,
Já foice de corte lento,
Ceifando todo e qualquer momento,
Que eu digo que só tento,
Eu quero e vou conseguir,
Sem deixar com que vá a ir,
Me dê uma punição mas não queira partir,
Se não eu irei ruir,
Mas se precisar,
Que se faça busca em alto mar.
Do que me é mas inconstante,
Quero fazer constantemente,
Que eu lhe ame a cada instante,
E que seja eternamente.
Minha moça que sonha e o tempo não lhe usurpa,
Que ainda vive de modo de ser reservadamente pura,
Não deixe que essa paixão se deturpa,
Faça-me o coração dessa estrutura.
Mesmo que se tranque a sete chaves e lhe mande a chave ao acaso,
Deixe-me ser tuas aberturas em cada abraço,
Encontrar liberdade nas prisões de meus braços,
Que seja tuas asas os nossos melhores laços,
Deixe-a lembrar de quem é,
Converse com aquela que pensa com o pé,
Não deixe que ela tenha medo do potencial interno,
Que possa me acompanhar no meu terno,
Seja em réu,
Seja em véu,
Não há amor mais sincero que deixar-me entrar,
E deixar dessas feridas curar,
Pois não só bastar lhe amar,
Preciso inteiramente estar contigo para poder te segurar.
Que diferença faria se todo dia fosse igual,
Presa numa rotina matinal,
Deixar-lhe ou ir embora seria a quem outrora faria,
Mas eu nunca lhe deixaria,
Nem me passa como forma de cogitação,
Quero ser a sua motivação,
Aquele que te faz mais perto daquele com dom de criação,
Seu amado,
Seu eterno casado,
Teu legitimado,
Motivo do seu eu animado.
Faça igual que tu fizeste no meu ser,
Me conhecer para se conhecer,
Se conhecer para poder se merecer,
Ter-se por completa para minha ser,
Porque já lhe amo muito para vê-la incompleta,
Quero lhe ver repleta,
De amor,
De unção,
Do Senhor,
Da nossa união.
Nunca lhe deixaria ir,
Nunca lhe deixaria sozinha ao “vivir”,
É tempo de me redimir,
Nosso amor ninguém consegue dirimir,
Ainda temos muito que nos unir,
Ainda há muito para vir,
Deixe-me vê-la sorrir.
E me dói assumir,
Se não falasse isso tudo não conseguiria dormir.