Sobrevida
Lamento!
Nunca mais pude expressar-me com palavras oriundas do coração.
Lembro, elas eram as minhas melhores ferramentas. Fluíam, ardiam, pareciam chamas!...
Mas eis que surgiu a predominância do silêncio empunhando a bandeira da resignação.
Uma pena! Perdi, por atraso, o tom da canção, aquela bela sinfonia d'alma.
Foi um acidente recente que me deixou um dolorido legado de sequelas...
Incômoda é essa sensação de ter que escolher vocábulos adequados para alguém que, até ontem, tinha a integridade franqueada do meu eu.
É uma medonha rotina, esse ocultar de tristeza, esse faz de conta que está tudo bem. Estranho, também, é ter que o óbvio abafar para, enfim, mostrar a calma desse peito que ama.
A vida segue, a gente não!
O tempo encobre, encasca a ferida, força a cicatrização.
Parece querer necrosar o querer.
Felizmente, há a esperança que me faz perceber que, desse lado, a vigilância do destino guarda e preserva os fragmentos vivos de um residual sentimento.
Sentimento esse, ninado pela solidão nas minhas madrugadas.