NOITE.

A noite está fria,

Mas o vento... Ele sopra sossegadamente,

Na copa das árvores… O balançar das folhas é calmo, esfregando - se uma nas outras,

Mostrando inquietude,

É um silêncio quase que absoluto,

Se não fosse pelos grilos cantarolando ao pé da figueira, rompendo a noite com o seu som estridente.

Mas a noite... Ela segue seu o curso; meu caríssimo marujo desavisado,

No alto do céu, as estrelas cintilantes, incontáveis estrelas cintilantes… Acenam desesperadas para os terráqueos,

As estrelas também bailam no escuro véu querendo atenção,

Elas guardam os segredos dos amantes das madrugadas, elas não se importam com eles,

Mas a noite está fria em seus corpos,

Soprando sossegadamente sem direção certa,

Os habitantes da escuridão dormem e sonham,

Os moradores sem sombras estão atônitos,

São os noctâmbulos moribundos das altas horas,

Onde eles podem se esconder?

A noite é o cobertor dos desesperados,

Dos aflitos sem causa,

Daqueles que temem a luz,

Ébrios errantes,

E por isso escondem-se na penumbra.

A madrugada avança no ponteiro do relógio,

A noite revela, a noite esconde,

A todo o momento e a todo instante,

Em cada pedaço escuro,

Onde a sombra não alcança,

E lá... Lá habita os sonhos dos poetas loucos,

Na penumbra da noite,

Onde a luz se oculta para descansar do dia,

Os poetas se escondem também,

Mas o luar os revela em certas noites desavisadas,

Suas palavras são de um amor sentido,

Dolorido no fundo da alma,

Ninguém os compreende,

Ninguém conhece os seus verdadeiros segredos, a tantos escondidos entre os espinhos da alma,

Mas o que é o poeta sem o seu amor?

O luar revela segredos que os dias nunca saberão,

O dia por sua vez... Também revela os seus segredos sem que a noite tome conhecimento,

E o poeta é esse observador desses dois mundos,

Este ser incompreendido,

Talvez para sempre esquecido em uma folha de papel.

Quisera eu compreender o universo,

Entender os corações humanos,

Saber de onde vêm todos os sentimentos,

Saber o mistério das almas e da vida,

Quisera eu... Ser essa brisa fria que sopra calmamente,

Talvez eu... Sorrateiramente entraria em teus aposentos,

Só para vê-la uma vez mais,

Tocar a tua pele macia,

Fazê-la arrepiar-se ao meu contato,

Mas sou apenas uma ideia boba e sem sentido,

A noite se faz fria meu amor,

O luar percorre a escuridão até quase não ser mais visto entre as nuvens,

E o poeta continua observando,

Oculto,

Pensativo, quieto, incapaz,

O poeta é feito das suas próprias palavras,

Palavras essas sem muito sentido,

Palavras que todos os dias são jogados ao vento,

São como sementes procurando por corações fecundos,

Novos poetas nascem um dia talvez,

Ainda que a noite se faça fria e escura,

Ainda que o dia se torne escaldante,

Ainda que o segredo da vida continue oculto,

Todos os poetas,

Serão para sempre as suas próprias palavras esquecidas no papel.

Tiago Macedo Pena
Enviado por Tiago Macedo Pena em 22/04/2019
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