Todos temos nossos laivos. Uns mais, outros menos.
Eu tenho os meus. E um, em particular,
me põe agora a escrever de joelhos com as mãos em chagas.
Não há como esquecer de tempos tão sombrios e sem poesia.
Tempos em que a saudade bordava os dias de luto,
e, sem caminho nem chão, tudo me era abandono.
Em dias assim, nem mesmo a alma pousava em casa ;
Então não te ouvi chamar...
Depois foi como se se partissem os douros,
as catedrais e se apagassem todos os poemas.
Mas que porra ! Não podias ter me esperado ?
Feito vela sangrando o horizonte, [ pedaço incalculável de mim ], foste, te foste !
Te foste sem a resposta perfumada em meus lábios...
Deixaste o batom por dizer, os espelhos sem cor.
Como se toda a vida se diluísse nas calçadas,
como que se me diluísse...
Hoje a lâmina insone passeia de pulso em pulso,
gozando do sangue ao conhaque ácido das horas,
enquanto os azuis morrem nas palavras empoeiradas de saudade
à porta dos meus olhos, à fímbria da tua boca !
Perdoa-me se em sono profundo não enxerguei a tua noite !
Perdoa-me se não te ouvi, enfeitiçada pelo teu sorriso !
Tudo em mim queria te arrastar de volta,
a lapidar nossas vontades.
Agora há silêncios roucos demais, dissimulados demais,
e ainda tão nus ao fundo...
Mas se bem me lembro, e tu sabes,
foi em silêncio que aceitei o anel .