ADOTIVO
Meu pai, no inverno de 1962
Na serra do Orobó em Rui Barbosa, sertão da Bahia
no café da manhã, estava eu, minha mãe e meus quatro irmãos na mesa, quando ele se direge a mim:
Lázaro meu filho! preciso dizer-lhe algo que diz respeito a sua vida, e a sua família, você vai precisar ser forte, mas a verdade tem que ser dita.
No inverno de 1956 numa manhã serena do dia 06 de setembro abri a porta de casa
e avistei uma criança numa caixa de sapatos (nesse momento comecei a chorar, e até hoje choro quando me lembro desse episódio)
-chamei Letícia com a voz embargada, ela de imediato te viu, te carregou no colo, e sentindo que estava muito frio, apesar do agasalho, que sua suposta mãe deixara, te apertou ao seio e ficou te olhando, olhava pro céu e te olhava e disse: presente do céu! presente do céu!
Depois de um mês, a vizinha diz ter visto, pelas frestas de sua janela, uma linda jovem com vestido rodado e um laço de fita no cabelo, com muito zelo, arriar uma caixa enrolada em tecido de algodão e beijar demoradamente; e chorando, desapareceu.
Eu assistia aquela declaração sincera de meu pai, e sem saber explicar; pois a emoção deu um nó na minha fala; eu sabia! sentia que era adotado, não sabia dizer porque. Mais sentia... não tenho queixas dos meus pais nem irmãos.
Meu pai carinhosamente me deu um abraço, e olhando para os meus irmãos suspirou! meu Deus!
como foi difícil falar a verdade,
-melhor ouvir de seu pai, que da boca da vizinha, a fofoqueira.
Ainda com os olhos marejados fui para o meu quarto, desejei ficar só; se pudesse voltaria para a caixa de sapatos.
Quando ouvir minha mãe dizer:
Filho eu te amo, você sente e sabe que te amo não é! então por favor feixe a caixa desse sapato agora!
-Eu perguntei que caixa de sapato minha mãe!?
-a que está na sua cabeça!!