Botequim
é tempo de festa, moreno
rugas de felicidade
fazem curva e se desmontam
em teu peito.
sentado naquele velho banco
que a poeira insiste em manchar
o peso do mundo
cai em minhas mãos.
vejo você de lado
na bancada do boteco
e cada canto é meu
numa melodia de satisfação.
a recusa em partir
desliza perigosamente perto
e pela primeira vez
sinto medo.
traço teu rosto gentil
e me demoro
nesse seu inferno
com sabor de cerveja ruim.
impulsiva resposta desleixada
teus olhos escuros me oferecem
e eu bebo o teu gosto
como nunca imaginei.
procuro uma saída
e sou recebido pelo ar quente
a noite me sustenta
e eu suspiro aliviado
cigarro após bebida após cigarro
me sinto preparado pra sentir
e volto pro meu canto
com o mundo em meus lábios.