Botequim

é tempo de festa, moreno

rugas de felicidade

fazem curva e se desmontam

em teu peito.

sentado naquele velho banco

que a poeira insiste em manchar

o peso do mundo

cai em minhas mãos.

vejo você de lado

na bancada do boteco

e cada canto é meu

numa melodia de satisfação.

a recusa em partir

desliza perigosamente perto

e pela primeira vez

sinto medo.

traço teu rosto gentil

e me demoro

nesse seu inferno

com sabor de cerveja ruim.

impulsiva resposta desleixada

teus olhos escuros me oferecem

e eu bebo o teu gosto

como nunca imaginei.

procuro uma saída

e sou recebido pelo ar quente

a noite me sustenta

e eu suspiro aliviado

cigarro após bebida após cigarro

me sinto preparado pra sentir

e volto pro meu canto

com o mundo em meus lábios.

Nicoly Diniz
Enviado por Nicoly Diniz em 27/03/2019
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