Outono


Um dia chegou o outono
No meu campo conexo
Com seu olhar trapaceiro
E parou ao meu lado.

Beijou a relva orvalhada
Olhos que não se pagam
Olhar que não tinha pranto
Sorriso de quem nada sabia.

Apaixonei-me pelo seu albor
No meu campo conexo
Todo dia na mesma hora
Eu o amava pela fresta.

Nenhuma palavra me dizia
Transformava-se em calmaria
Leve feito plumas ou algodão
E ainda tinha leve as mãos
Iguais aquelas eu nunca tinha visto.

No meu quarto de mistério
Quase sempre eu dormia
Noutro dia eu acordava
Com o outono a me espreitar.

Meu coração era calmaria
Seguia-me até o dia findar
Em busca do outono...
Sem que a hora exata eu atinasse.

Cansado talvez me sinta agora
Tem dia que até de tudo
Adormeço com estampido na noite
Em outras estações também tão queridas.

Inclusive do meu outono ameno
Que apesar de ter folhas mortas
Jamais será por mim preterido
Prefiro o manso e sonolento outono
Que além de sonolento é harmonioso
Alegre e triste ao mesmo tempo.
R J Cardoso
Enviado por R J Cardoso em 25/03/2019
Reeditado em 25/03/2019
Código do texto: T6607175
Classificação de conteúdo: seguro