A MULHER DO LOUCO

Como é linda a eternidade da mulher do louco.

“Transtorno delirante persistente

agudo polimorfo não orgânica afetivo”

para um ser que nunca

existiu.

(Cid: G43, F22; F23.0; F29)

Mas a mulher do louco

não confia nessa classificação,

da tabela internacional de doenças.

E o louco, que é louco, às vezes medita,

junto ao sentido desconectado da poesia:

“Como ela pode ser não orgânica

se está ali, se me abraça

no primeiro contato da manhã?

Como seria constante,

se reaparece apenas quando tomo sol

em minha cadeira permanente,

naquele canto simples

com vista para o jardim?

Como poderia ser aguda

se ao meio-dia,

quando canta a canção amorosa,

ela me faz rir da vida repentina e digo:

- Tão repentina foi minha vida!”

O louco suspira para sua mulher.

A mulher eterna do louco,

uma alucinação:

“Sou um Transtorno mental não identificado!

talvez um OVNI amoroso!”

Ela repete e o louco sorri

completamente apaixonado.

DO LIVRO: AS SONDAS AMAM

Paulo Fontenelle de Araujo
Enviado por Paulo Fontenelle de Araujo em 22/03/2019
Reeditado em 01/03/2020
Código do texto: T6604627
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