O calabouço interno e o algo(z)ritmo vitimista

Como todo ato divino em prol individual,

Faz-se à margem de um ser espiritual,

Descendo lugares em espiral,

Por um conceito eu-lírico divino intranscendental.

Findado em nova vida com desejo de mudar,

Deixando as antigas sombras em brumas do mar,

Mesmo que não seja saudável, falo que vou me matar,

Consegui voltar na minha praia sem afogar.

Por um novo jeito de ver o mundo a mim inserido,

Ainda com cicatrizes nesse ser ruído,

A coisa humana de mundo florido,

Sou eu mesmo, mesmo declarado como sumido,

E meio os astros do meu ser, um sussurro entra em meu ouvido.

Fazia tanto tempo que não tocava no troco em mim elaborado,

Criando dúvidas da democracia ou tirania em mim destronado,

O fato de deixar de ter me amado,

Que me fez expulso do meu reino para me dar por achado,

Antes destronado, que crucificado.

Acredito que meu maior dom foi a eterna paciência,

Misteriosamente superando maior que qualquer ciência,

Havendo sentimentalismo incongruência,

Eu me pergunto porque fui feito por dessa suficiência,

É uma torpe saliência,

Que causa na ferida certa ardência.

Sendo ela grão de areia em deserto planetário,

Presa e anexa no meu próprio alfarrábio,

Como uma vez disse-me um sábio,

“Tenha-se em si antes que se tenha de mal em próprio lábio”.

Macabro pode ser a sombra do condor em minha mente,

Cacofônico o grito da harpia que quebra meus atos inconsequentes,

Não adianta um ranger de dentes,

Por mais que busque paz, guerra é iminente,

Em um mundo de regras serei eterno delinquente,

Por mais que eu tente.

Depende do tom da interpretação do quão guerra pode ser paz,

A paz traz mesmo que deixada para trás,

Faça-se tua própria utopia ao invés de Alcatraz,

Antes que seja tarde demais.

Concorre ao sentimento de guerra o sentimento de derrota,

Entidade que quando perde se dá por morta,

No instante que diminuem sua luz interna por impulso atroz,

Passa de interna vítima para o seu algoz,

É um algoritmo vitimista,

O algoz que segue o ritmo de situação de anistia,

Muito mais que uma epifania,

Ele quer fazer de ti a mais deliciosa sangria,

A frase favorita dele é “quem diria”.

Dói que minha mente decide esconder a paz igual mãe executada,

Usando o próprio corpo para evitar o seu filho de uma machadada,

Invocam-me do fundo do subconsciente que se mantém trancada,

Chamam-me a maior das atrocidades bestializadas,

Fazem de suas correntes quebradas,

Enforcadores para criaturas mal criadas,

Não se sabe qual das duas é mais endiabrada.

Uma ave que ofusca o corvo que procura integridade,

Abalando até minha própria trindade,

Que traz medo a qualquer verdade,

Sua arma e munição são a sinceridade,

Do teu bico longo jazem narinas em fogaréu,

Ele é o juiz, os jurados, o tribunal, as vítimas, os carrascos contra o réu,

Sua maior vontade é executá-lo sem véu,

Prometendo jurar o próprio anel.

De tuas asas que poderiam abraçar uma constelação,

Teus olhos queimando em brasas bubônicas,

Representa a interna União,

Pronto para suprir as necessidades lacônicas.

Teus olhos não tocam as pálpebras superiores,

Não perde tempo nem piscando contra seres inferiores,

Acima dele só seus Senhores,

Pronto para executar uma ação de penhores,

E apesar de todas as dores,

Ele quer sentir e triturar todos os tortuosos sabores.

Olhos arco-íris que trocam de tonalidade a cada momento,

Queimam em flamejantes ardores ciumentos,

De momentos em momentos,

Ele nunca esquece seus juramentos.

O corvo queima em tom cardeal,

Não se entendendo em chamas bordô,

Mescla o subconsciente com o racional,

Segura pelo pescoço o impuro condor.

Nem mesmo a chuva interna consegue apagar esse ser,

Ele está aqui para fazer-me esquecer,

Me reconhecer,

Me refazer,

Me ser,

Ser.

Suas penas tem os tons quentes do arco-íris,

Parecendo todas as tonalidades em um pires,

Rodopia e rodopia e rodopia,

A voz soberana em tom de ironia,

A calma simpatia,

A presente Ira minha,

Todas as cores mais lindas dos sentimentos mais perversos,

Provando superioridade com seus deveres poéticos.

Com peito inflado e pulmões pesados,

Olhando por cima do bico ou encarando de lado,

Perde a elegância quando está irado,

Faz somente o que for necessário,

Para manter (se) vivo e estabilizado.

Mas quando se trata de incógnita que palpita o coração novo,

Volta-se a destarte do ovo,

Sua aparição é espiritualmente oneroso,

Ser interno poderoso,

Que se necessário aparecerá de novo,

E de novo,

E novo.

Com as garras de tua mão cobertas de líquido desconhecido,

Crava na papa abaixo do queixo do estorvo conhecido,

O sorriso logo se transforma em boca de grito,

Não deixa-lhe dar nem um suspiro,

O bico se abre e mostra enfileiradamente os dentes da bocarra,

Rasgando todo o demônio com sua garra,

Tira-se tua amarra,

A aparição da besta é sinônimo de perigo ao seu possuidor,

Possuindo dor,

Possuindo ardor,

Ele sempre voltará pelo seu clamor,

Sempre pelo seu amor,

Próprio,

Ou impróprio.

Após o desmembramento daquele ser nefasto,

Segura o corvo que crava as garras no seu braço,

Dando-lhe um aconchegante abraço,

Poderia esmaga-lo com um amasso,

“Mas é com amor que tudo faço”.

Termina-se numa oração,

A voz do coração,

Que o acalma dessa situação,

Trazendo-o a seu canto de solidão,

“Deus me deixa alcançar tua mão de estrela,

Cadente,

Ascendente,

Descendente,

Contente,

Fluorescente.

Circundado em teus fótons,

Diante de teus dons,

Transcendental a teus dons,

Mesclado em seus tons,

Fazendo-vos bons”.

Ele abre as asas e voa a teu poleiro,

Melhor e pior amigo conselheiro,

Sua aparição não é algo corriqueiro,

Mas sempre será parte desse vivo devaneio.

Meu pior problema que me deixa frustrado,

Questão que não coloco em prática,

Que do chiado do silêncio,

Já se sente conturbado,

Eu posso ter matado a Ira,

Mas já estou novamente irado.

Deus mantém minha paciência e integridade,

Antes que eu me amargue de verdade,

Pois o maior ato de doença,

Seria viver e me achar vivo na indiferença.

Minha mente é um calabouço,

Preso comigo mesmo pela eternidade numa sala de um só trono,

Trancafiado e pedindo socorro,

Implorando por mais paciência antes que eu morro,

As vezes até corro,

Quem vai salvar a esse corvo?

E assim é dentro dos meus pensamentos e suas loucuras conflituosas,

Que me impedem de soluções virtuosas,

É tudo que se passa na minha cabeça,

Dentro das brigas nossas.

Salva-me de mim mesmo,

Pois estou sendo dono de mim esmo,

Quero ser árvore que me rega e eu cresço,

Não erva daninha que pisa e desapareço,

Numa briga que dedos não seguram mão,

Segurando-se em esperançosos metacarpais,

Procurando conversa aonde terminou em não,

Avançando todos os sinais.

Se a mão cair uma da outra será que voltaria a ela pegar?

Ou iria embora sem ao menos me beijar?

Por isso eu melhoro cada dia para que nem seja possibilidade,

A única aceitável realidade,

Somos nós se amando pela eternidade.

Sei que me vê na trilha que lhe compõe,

Que me ama com tudo que lhe dispõe,

Não há nada que minha mente opõe,

É amor imortal que não decompõe.

Brigas sempre acontecem e acontecerão,

Mas nunca largarei a tua mão,

Por mais teimoso e orgulho que sou de antemão,

Nada é em vão,

Se não é benção,

É lição.

Corvo Cerúleo
Enviado por Corvo Cerúleo em 22/03/2019
Código do texto: T6604220
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