Carta para Célia
O verso é livre, o poeta não
O verso está na língua
O poeta obedece a leis incompreensíveis
O verso! ... O poeta sabe que ele segue caminhos diversos
Por isso: modifica-se escreve-se descreve-se
Se transforma, se transfere, se apaga, se perde...
O poeta não! O poeta ectoplasma!
Entre o verso e o poeta há correntes, os elos não se pertencem
São todos alados e sagrados
Mas entre o mito, o verso e o poeta
Há conflitos – uma cicatriz esculpida por sentimentos –
Que o poema não confessa
Entre o verso e o poeta,
Há uma estação selvagem,
Tecidos orgânicos de linhagens
Que saem diluídos à procura de destinos
Para te oferecer
Escolhi os Alexandrinos, a Ilíada e a Odisseia
Perdoe-me, se não te ofereci grafismos, películas de expressar desejos...
Antes, me permito o delírio
Todo poeta só cria diante de abismos
É na sarjeta que sente a presença de Deus
Só assim, diante desse enigma,
Poderei imaginar um verso livre
Que insinue passagem
E no rasgar do pergaminho, nesta fenda
Entender o feminino do universo
E diante da grandeza da mulher,
O mito, o verso e o poeta
Perdem os sentidos...