Hipócrita Divino V: Tauma interno
A última vez que eu subi em um altar,
Que infelizmente não foi para me casar,
Eu pedi a Deus para me fazer sangrar,
Antes que eu mesmo faria a minha rosa chorar.
De sangue azul para o carmesim,
Derrame sempre em mim,
Bênçãos sem fim,
Quero ser teu serafim,
Para acompanhar até o fim,
Só não me deixe eu, sem mim,
Eu mesmo sem ego,
Que dessa voz faça eco.
Enfiei meu bico predatório em terra seca do subconsciente,
Encarei o próprio fato de que minha mente, mente,
Que a meu maior contágio era o meu ego doente,
Fazia com que eu perdesse todo o meu eu contente.
Cansei do orgulho que tanto emana,
Somente me deixava dormir quando eu me sufocava na cama,
Colocava interrogação na exclamação de que a minha pessoa se ama,
Só queria enforca-lo para acabar com essa gana,
É a doença mais cigana,
Que te esgana,
Que te ganha,
Tem sua manha.
Tenho tanto orgulho que me enforcaria o reflexo,
Fazia algo tão simples se tornar algo tão complexo,
Ter tanto orgulho de enforcar a si mesmo para ter só um,
Deixei o meu eu especial se tornar mais um comum.
Mas em uma manhã eu acordei diferenciado,
Estava tão em paz que eu fiquei assustado,
Qual era meu propósito de estar acordado,
Sendo que eu não sabia o que tinha mudado?
Pai eu quero que me sangre,
Hace renovacion con mi sangre,
Com sua voz me chame,
E com meus pecados eu não me acanhe,
Sempre me ganhe,
E onde for ela me acompanhe.
Mudar é meu eterno tauma,
Toda e diferente forma de trauma,
Mas é intangível o tamanho da minha calma,
Mesmo significando mudar a minha própria alma.
Causa encanto,
Causa espanto,
Mas eu batalhei tanto,
Qual o problema de querer-me em pranto?
A primeira vez que não me vejo como corvo,
Será que estou morrendo de novo?
O que há de novo?
Finalmente saí do meu próprio ovo?
Tantas pessoas vendo mudanças e me sinto como sempre,
Sempre me vendo de forma diferente,
Acostumei tanto não ser um só todo dia,
Que minha identidade é desconhecida,
Loucura ironia,
Pra quem falou que nunca ia mudar,
Nunca pensei em ser o mesmo todo luar.
Mas a diferença que dias para cá vi a camada de trevas se quebrando,
Foi clareando,
Fui me encantando,
Me senti quebrando,
Mas não me acabando.
O que era corvo negro se tornou azul mar,
É o poder de se auto proclamar,
Parar de romantizar a pessoa que não deve ficar,
Pois quem fica é aquele que te quer bem,
E onde estava tentando ficar bom querendo que eu vá para o além?
Eu me pego e passo a mão no peito,
Arrepio-me de leito,
Deleito,
Me deito,
Comigo mesmo converso,
E em cada verso,
Transformo esse conhecimento em sabedoria,
É uma euforia,
Ninguém nunca disse que não seria cacofonia,
Mas não pode faltar sintonia,
E novamente a ironia.
Para alguém de coração de pedra ele bate como um tambor,
Para alguém que se sentia frio, dizem que da mão emana calor,
Para alguém tão orgulhoso, sente ao próximo tanto amor,
Sempre foi o desejo do subconsciente fazer esse clamor.
Porém pedi a Deus tanto para esse pássaro crucificar,
Que arrancasse cada pena para me fazer renovar,
Do negro para o azulado,
Dê como a vida desse corvo, acabado.
Acaba com a vida mas não com o destino modelado,
Pois eu sou teimoso para não aceitar tal fardo,
Cansei de ser um demônio mascarado,
Terão que me amar mesmo com o olhar de metido,
Mas nunca tive meu amor comprometido,
Nada de intrometido,
Apenas deixar de ser introvertido.
O corvo que sobrevoa é aquele que carrega confiança de múltiplas almas,
São todos que me lembro para manter as minhas calmas,
São equivalentes para a plena defesa de todas as minhas armas,
Tiram o peso de sentir remorso em todos os carmas.
Nunca serei perfeito igual Jesus,
Mas sou perfeito proporcionalmente para minha própria cruz,
Posso não ser uma eterna luz,
Mas sou o brilho que ao destino seduz,
Faço reluzir tudo aquilo que eu necessito ser,
E de todo meu ser,
Eu vou sempre ser,
Aquele que ama, aquele que faz sofrer,
Mas que tudo seja por merecer,
Única coisa que posso me aproximar do messias é a calma e paciência,
É dom transcendental a ciência,
Não necessita somente convivência,
Deve fluir da própria essência.
Mas nada nessa vida vem de graça àquelas que tanto buscam uma felicidade,
Sempre há um ponto de causalidade,
Que pode trazer infelicidade,
Me encontrei e pedir infinitas vezes que questiono quem sou de verdade,
É tanta personalidade,
Mas eu sigo procurando essa identidade,
E estou gostando,
Me amando,
Me acabando,
Me doando,
Mas nunca me destronando.
Peguei na minha mão e mostrei segurança,
Foi o ato ao ensanguentado de maior confiança,
Convidei-me para uma dança,
Que eu sempre tive qualquer esperança,
Ainda bem que nunca escolhi a matança,
A teimosia é uma bruta perseverança.
Prometi a mim mesmo fazer do meu cálice transbordar,
Prometi também aos inimigos que dessa água é seu envenenar,
Tenho amor e eterna paixão,
Mas aos inimigos não demonstro compaixão,
Perdoar ainda é meu ponto fraco,
Para aqueles que eu dei flores me responderem com caco,
Sentimento eu não disfarço,
Mas de amizade eu desfaço,
Tudo é um laço,
E enforcar o ódio é o primeiro passo.
Ainda não aprendi a dar a outra face,
Mas ainda respondo com meu cálice,
Um brinde a quem segue nos meu ditames,
Mas a quem foi nunca voltará aos antes.
Encontro-me em pôr do sol e com água praieira,
Não me vejo mais em bruma costeira,
Nem me fascinando com os detalhes da caveira,
Só me achei como minha própria cadeira.
De joelhos à areia do mar,
Ao meu colo ei de me deitar,
Deixei a mim mesmo me doar,
Nada a doer,
Apenas agradecer,
Que eu possa nos meus próprios braços morrer,
E finalmente poder renascer.
Enquanto meu eu desfalece,
Algo dentro de mim falece,
Mas é algo que tanto me merece,
Que um novo eu se comece.
Nesse pôr do sol cai os últimos suspiros do antigo endiabrado,
Enquanto há um pôr do sol maravilhado,
Eu só consigo comigo mesmo ficar encantado,
Não há paisagem mais bonita que eu mesmo renovado.
Amor próprio é diferente de narcisismo,
Não é o meu tipo de altruísmo,
Mas eu cismo,
Que finalmente eu me confisco.
A água é tingida por sangue e levada pela onda da minha própria confusão,
É a minha melhor e mais bela confissão,
Foi tudo feito tão sem pressão,
Que eu fico feliz de ter encontrado o amor nessa encarnação.
Abram alas para o pássaro alado,
Que tem a si mesmo como aliado,
De corvo da Morte ao símbolo dourado,
Dei-me como a rapina mais bela do paraíso,
E para isso...
O eclipse interno,
O inverno,
Tomar sua forma ardente,
O pássaro celeste, estrela cadente,
Que cai em graça,
De amar a toda raça.
Me achei,
De mim mesmo fiz rei,
E eu sei,
Sempre fui, sempre sou e sempre serei,
Eu de mim mesmo e acolá.
Só tenho certa farpa de amor próprio poder gritar,
A tudo que ele queira sempre falar,
Ficou tanto tempo calado que agora nunca irá parar,
Ele pode me consumir e consumar,
Tudo aquilo que acha que eu mereço experimentar,
Primeiramente ser felizardo,
Ser inteiro e ter amor inflado,
Nunca ser inacabado,
Sempre ser o diferenciado,
Eterno apaixonado.
Hoje é o hipócrita divino que fiz o que disse que não iria fazer,
A primeira vez que me amei dês de todo o meu ser,
Mesmo com tanto sofrimento fiz tudo por merecer,
Até o amor que eu conquistei fiz valer,
Pois honro três coisas que a mim são eternas.
Por Deus,
Por minha inteira,
Por mim.
Pois são as únicas coisas que estarão comigo até o fim.
E que seja assim,
Amém.