Balada das Pulgas em meu Peito
Acordei hoje com uma coisinha no coração. Fui abrir meu peito para ver, era uma pulguinha tocando viola e outra pulguinha cantando uma balada de saudade.
«São tanto sonhos, meu amor,
são tantas vozes a cantar,
é tanta pedra, é tanta a dor,
é tanta a vida a te aguardar.
Pensei nasci anos atrás
até te ver e assim notar
que não nasci, não tenho paz,
só vou nascer ao te beijar.
Havia um homem sem orelhas
que rezava "Meu Senhor,
ouço o zunir de mil abelhas,
não me tires do torpor."
E Deus dizia em seu sonho
"Oh, não temas, filho meu
não é torpor, é que eu componho
a quem só escuta o amor que é seu."
Assim são sonhos, meu amor,
somente os tem quem quer cantar,
dei uma orelha a meu Senhor
e outra orelha a meu sonhar.
Um olho meu ao horizonte
aonde devo caminhar,
um outro para a tua fronte —
só assim sei respirar.
A vida é isso, o mundo é nada,
só me importa te encontrar.
A minha boca está guardada
para o canto e te beijar.»
Quando terminaram, decidi que era melhor manter as pulguinhas ali. Fechei meu peito, dei três batidinhas para trancá-lo e fui tomar meu café.
28/02/2019