O VERSO NA CAIXINHA
Um dia abri uma caixa.
Nela continha, sozinho,
Um papelzinho dobrado,
Distintamente embolado,
Enrugado, amassadinho.
Desenrolei com cautela
Curiosidade e atenção
Quem o dobrou foi zeloso;
Quis e foi misterioso;
Requereu-me precisão!
Pus-me, sentado em suede,
Pinça na mão e coragem.
Quando se quer, nada impede:
Bisbilhotice não cede;
Encurta qualquer viagem.
Ao desdobrar certa parte,
Letras formavam "ação".
As tomei como incentivo,
A cada letra, mais vivo,
Batia o meu coração.
Mais uma dobra, conquista!
Minha cabeça coçou:
Por mais que o papel resista,
Cada desdobra é uma pista;
Mais perto do verso estou.
Mistério quase findando,
Antecipei-me em saudade:
Com a aventura acabando,
Fui-me feliz constatando:
Que eram versos de verdade…
E diziam:
"Você que abriu o papel,
Que da caixinha o tirou,
Use a sua indiscrição
e essa determinação
para encontrar seu amor".