O VERSO NA CAIXINHA

Um dia abri uma caixa.

Nela continha, sozinho,

Um papelzinho dobrado,

Distintamente embolado,

Enrugado, amassadinho.

Desenrolei com cautela

Curiosidade e atenção

Quem o dobrou foi zeloso;

Quis e foi misterioso;

Requereu-me precisão!

Pus-me, sentado em suede,

Pinça na mão e coragem.

Quando se quer, nada impede:

Bisbilhotice não cede;

Encurta qualquer viagem.

Ao desdobrar certa parte,

Letras formavam "ação".

As tomei como incentivo,

A cada letra, mais vivo,

Batia o meu coração.

Mais uma dobra, conquista!

Minha cabeça coçou:

Por mais que o papel resista,

Cada desdobra é uma pista;

Mais perto do verso estou.

Mistério quase findando,

Antecipei-me em saudade:

Com a aventura acabando,

Fui-me feliz constatando:

Que eram versos de verdade…

E diziam:

"Você que abriu o papel,

Que da caixinha o tirou,

Use a sua indiscrição

e essa determinação

para encontrar seu amor".

Cassio Calazans
Enviado por Cassio Calazans em 15/02/2019
Reeditado em 15/02/2019
Código do texto: T6575345
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