AMOR AMARELADO
Tuas palavras, teus gestos
Me ressuscitam da dor, da perda indissolúvel
Rostos afugentam como o pó de café solúvel
Lembranças invadem meus castelos
Tudo se embaça juntam meus restos
Tua boca, teu cabelo, meu desmazelo
Agora me amadureces de verde e amarelo
Quando na verdade estou no vermelho
Tanto tempo há que te deixei
No tempo de sumir
Que acabei te reencontrando bem sei
Tantos anos depois de me punir
E hoje ao te reencontrar em ruas pueris
Pisei na relva das flores da primavera
Que estavam adormecidas dentro de minha raiz
Me aprisionando nas sombras que nunca estivera
Há tantas covas dentro de mim
E em teu sorriso umas covinhas
Sei que o destino enfim
Juntam as flores pra se livrarem de ervas daninhas
Lágrimas são hóspedes intensas
Que saem sem despedir
E não adianta as carpir
Pois que suas raízes são imensas
Sinto que aos poucos tudo medra
Dentro do meu peito ainda queima
Não o amor pois coração virou pedra
Mais a paixão que em arder ainda teima
Estou aquartelado dentro de mim
Como num casulo com medo de ver as flores
As dores que todo corpo tem, enfim!
Senti teu hálito quente subir em estupores
Tudo a seu tempo até as asas dos cobertores
Baterem e nos gestos ciliares
Saberei na escuridão descobrir tuas cores
Até gozares em mim a solidão das velas engolfadas dos mares
Não se perturbes se mesmo assim
No negrume em que eu me encontro
Teu farol em mim se apagar neste ínterim
Sei que mesmo assim há luz neste desencontro
O negócio é deixar fluir
Sem cobranças como um barquinho de papel
Não haverá sequelas no seu construir
E quem sabe assim como uma arca suba ao céu
Quero que reflitas que nem sempre o anel é um selo
No dedo até cabe, mesmo que apertado
Mais a Deus não nos cabe conhecê-lo
Assim é este amor que amarela, mais de dourado...