Hipócrita Divino V: Dilectione em forma de dúvidas

Caminho das Pedras que cantam juntas o primeiro dia da Aurora,

O primeiro respirar de pulmões secos que suplica por respostas,

O olhar ao Sol de um mundo que serpenteia em cascata de pedregulhos e varetas,

O bote de oportunidade que fagulha em água fervente que ecoa e lhe implora.

Que anda sob tua luz e descansa sob tua sombra,

Que comeu da sua carne e bebeste do sangue do teu osso sem sobra,

Que não sabe qual o propósito divino ou se perambula em terra que se assombra,

Que sem sombra de dúvida, duvida do quanto sua dúvida pode fazer com qual resposta vira mais pergunta.

Vaga ou caminha, responde ou gera confusão, corre ou saltita, pula ou se joga, e em peso de ouro qual o preço dessas atitudes?

Em solo sagrado espurga a impureza dele mesmo e infecta o mundo com suas desilusões em plenitudes?

Faz parte de meritocracia divina ou mortalmente é o humano de cardumes?

Tudo isso é destino ou somente sobrevivência de costumes?

Livre arbítrio ou predestinação?

Acreditar em que atitudes pesam na balança ou tudo é divina ação?

Eu sou o filho prometido de uma nação,

Ou o próprio eterno assassino do irmão?

Me pego novamente mordendo o lábio até o fio vermelho cair em queixo,

Eu tenho realmente a faca, a mão e o queijo?

Dondé que encaixa-me nessa máquina de eixo?

Sou eterno operário e desse posto eu nunca deixo?

Quanto cria afeto por quem é puro e mesmo em 7 encarnações eu nunca poderia ser igual o Messias,

Quão pesa minhas costas de atitudes dos meus salvadores que flagelam-me em heresias?

Meu bafo quente de inverno frio me tiraria dessas maginifcas visões que tenho das colinas?

Quem me dirias?

Por qual preço paguei por minha Estrela,

Hanno portato via la Stella!

De brilho és tão singela,

É o que o amanhã tem de dor mais bela,

E com esse assoprar da vela,

Qual o meu propósito na vida aquarela?

Me pego no banho em perguntas e de questão irresoluto,

O banho quente de água ardente batem na minha pele em Zero Absoluto,

Todas as gotas que avermelham minha carne é um diferente luto,

Sendo o Deus das minhas células eu as destruo,

E não é de modo astuto,

Para elas eis me tudo,

Mas o tudo delas de que seria suficiente?

Eu pareço a pedra solta da calçada,

Sou igual a aljava de cada flechada,

Eu pareço a sombra entre cruz e espada,

Sou igual o sangue que escorre da pele suada.

Me destrui e hoje me moldo,

Di Molto!

Me prendo e me solto,

Mais vale um céu límpido que um chão morto?

Se a graça que me deu em sacrifício seja devolvida em coro de sepultura,

Qual o propósito sagrado que de fato me atura?

Ei de ser filho do sangue da espada num ato de bravura?

Ei de ser o inconsequente da faca num ato de loucura?

Sou célula que te gera brilhante pele pura?

Ou célula de casca que te tens em atadura?

Questiono por ser dois pilares da minha própria casa em constante talhamento,

São tantas juras que cada juramento,

Cada um desses que me levaram ao livramento,

De todo santo dia do meu interno tormento,

Cada jura fosse espada não teria espaço para cimento,

E a maior desculpa de alguém que finge estar dando o seu melhor é sair todo contento,

Quero conseguir, mas lamento,

A pior maldição para alguém é dizer "Eu tento, eu tento".

Por que ter sido escolhido com tantos nomes em tantos corações?

Por que ter sido escolhido para compor tantas canções?

Por que ter sido escolhido para chorar sangue em minhas orações?

Por que ter sido escolhido para diferenciar bençãos de lições?

Mas eu sano dúvidas sobre pele nua,

Mas eu sano dúvidas de ser herege que toca alma pura,

Mas eu sano dúvidas na voz amada que me procura,

Mas eu sano dúvidas com o beijo roxo que me censura.

Não vivi só de maldições e ódio,

Não sou assassino sustentado ao ópio,

Sou Corvo Cerúleo, o próprio,

Que segue o Rio, que eu rio,

És meu colírio,

E com esse belo lírio.

Propriamente dito,

Propriamente maldito,

Mas que do piar jaz teu mistério bendito,

O imortal pássaro andarilho,

Encontra a nota no teu livro.

Diante de tua voz que ecoa em atitudes de infinita possibilidade,

Diante de teu olho que roga feliz o filho e o pai da seriedade,

Diante de teus ouvidos que escutam o socorro e parte ao resgate,

Diante da tua benevolência, sou preso em liberdade,

E amando de verdade!

Procuro matar o ócio do constante movimento de promessa do suplício,

Quieto minhas obscuridades lacônicas em coração agridoce e silêncio,

Dos inacabáveis presentes do dia a dia eu vivencio.

Do ar que venta,

Do ar que esquenta,

Do ar que comenta,

Do ar que tenta,

Sei que todo Pai tem cria ciumenta,

Não briga, argumenta,

Não abandona, sustenta,

De tua paixão sedenta,

Não estou com raiva. Não esquenta.

Mas eu sei que nenhum verdadeiro Pai é ausente,

Sei que todo verdadeiro Pai quer o filho contente,

Sei que todo verdadeiro Pai quer que o filho tente,

Sei que todo verdadeiro Pai quer ver o filho novamente.

Não te vejo, só suas maravilhas,

Sei que encontra-se em êxtase em suas divinas ilhas,

Que todas as conquistas apreciaria.

Deus tem face, é Pai e com certeza um filho veria.

Deus tem Face e me verá,

Deus tem Corpo e me abraçará,

Deus tem Ouvidos e me ouvirá,

Deus tem Voz e me aconselhará,

Deus tem Coração e sempre me amará,

Independente do caminho de espinhos que eu vá me aventurar,

Que dom maravilhoso,

O dom de duvidar.