SOTERRADA POESIA
Marrom lama que desce, feito rio,
sufocando o peito da terra calada
dando ao homem o morto frio,
ao céu a única triste escada...
Sem o uivo do boi que berra
só se escuta os pés da lava
que monta na esperança,
só se escuta o soluço do céu
que cobre em nuvens feito um véu
o rosto manso de uma criança...
Essa dor que mais que minha, tua,
cobre meu coração despedaçado,
minh'alma anda só, vazia rua,
não há um só braço a ser dado...
Os anjos rasgam suas túnicas
e os outros anjos saltam no despenhadeiro;
haverão tantos, agora, de alma única,
pergaminhos sem os velhos testamenteiros...
Deixe-me em paz, oh dor,
deixe-me deitado sobre a laje fria,
nenhuma gota resta do elixir do amor,
só esta soterrada poesia...