Eu quero ser o seu Herói
Eu nasci herói com máscara de vilão,
Adepto incrédulo da mais perfeita escuridão,
A estrela sombria da mais teimosa constelação,
O pilar escuro da casa dos deuses que traz a mais calorosa união.
Meu maior crime foi me roubar,
Tirei de mim mesmo o direito de amar,
Tirei de mim mesmo a curiosidade de me procurar,
Tirei de mim mesmo a vontade de continuar.
Andei por terras que deixaram meus pés em músculo esquelético,
Sofri que a canção do perdedor tinha o timbre poético,
O ser mais covarde de semblante patético,
Do espírito de cor apoplético.
Amargurado,
Nunca cansado,
Irritado,
Mas não derrotado.
O primeiro passo para redenção,
É quebrar totalmente o petrificado coração,
É fazer subir o fogo da canção,
Enquanto nos braços divinos se enforma de readmissão.
Lutei, saquei minha espada e incontáveis golpes direcionei,
Defendi, segurei todos os cortes com meu escudo e evitei,
Ataquei, com punhos sangrentos soquei o inimigo e cansei,
Perdi, depois que olhei o ser sem vida e descobri que me matei.
Voltava de toda luta ensanguentado e de espada trincada,
Cada passo parecia meu coração sofria uma parada,
Cada respirar parecia que meu pulmão não descansava,
Voltava de toda luta parecendo que o vilão respirava.
O herói retorna e já é açoitado,
O herói implorava mas foi trancafiado,
O herói gritava mas foi silenciado,
O herói vencia mas foi condenado,
"Aquele que lutou e venceu mas nunca deveria ter voltado",
"Aquele que trouxe glória mas tem ar de decepcionado",
"Aquele que ensanguentado-se para uma nova vida mas abraçou o pecado",
"Aquele santo guerreiro que é o maior guerreiro endiabrado".
O santo da espada,
O mágico da realidade,
O louco da risada,
O palhaço da seriedade,
Deram tantos nomes para ele que nem ele mesmo sabia quem era de verdade,
Ele entrou em colapso de identidade.
Para os vencedores sobra a glória,
Para os amargurados o doce do beber,
Para os bravos busca a vitória,
Para os endemoniados o mistério do renascer.
Até o ébrio anestesiado receber um tapa latente,
Ecoou em todo seu corpo, arrancou-lhe um dente,
A moça segurando a mão dormente,
E o bêbado respondeu com um sorriso contente.
Mesmo em farrapos, sujo e desonrado,
Mesmo com sangue seco e descartado,
Mesmo que o sorriso de ironia mantinha seu verdadeiro valor trancafiado,
Ele nunca deixou o heroísmo de lado.
A primeira pessoa que não o acusou e extendeu a mão,
A primeira pessoa que lhe disse um não,
A primeira pessoa que não caiu em contentação,
A primeira pessoa que não o viu como vilão.
Ele voltou para mais uma vez lutar,
Ele se vestiu para poder se armar,
Ele se armou para poder contra atacar,
Ele defendeu por que aprendeu a amar.
A espada reluzindo o mais vermelho de tom,
Mais vermelho que o batom,
Mais vermelho que o licor de um bombom,
Mais vermelho que seu próprio dom,
O vermelho que pela primeira vez não significa ódio e rancor,
O vermelho que pela primeira vez não significava a morte e seu odor,
O vermelho que pela primeira vez ela a atração do calor,
O vermelho que pela primeira vez pulsava em amor.
O maior vilão do mundo era o herói de alguém,
O maior ninguém do mundo era o centro de alguém,
O maior ódio do mundo é o maior amor de alguém,
O alguém, era finalmente alguém.
Então decidiu que lutaria contra o maior desespero da vida de quem amava,
Fez com que o destino só seguisse aonde ela estava,
Fez com o que o tempo passasse aonde ela pisava,
Fez com que a existência só existisse se ela o amava.
Ele luta contra o tempo, contra o passado e a própria mente,
Ele transforma qualquer coisa ruim em uma memória sorridente,
Ele contorna qualquer situação com o respirar mais paciente,
Ele fala todas essas coisas, boas ou ruins, de uma forma que nunca mente.
Por ela, tocaria com sua espada a superfície solar,
Por ela, transformaria todo sangue no mais belo mar,
Por ela, faria qualquer vilarejo destruído seu mais lindo lar,
Por ela, ele executaria o próprio orgulho para poderem se amar.
Carrega tantos fardos como um lobo continua andando depois de uma chuva de flechas,
Constrói e edifica qualquer pilar e cada que possuem brechas,
Abre caminhos possíveis de ambos irem mesmo quando parece que fecha,
Daquele monstro cheio de ódio sobrou uma fina mecha.
O tratamento de um cavalheiro,
O brincar de um palhaço,
O sacrifício de um cordeiro,
O limite de um aço.
Ele não quer vida fácil, pois com ela não teria,
Ele não quer atalhos, pois ela o pararia,
Ele não quer estilhaços, pois ela o curaria,
Ele não quer ninguém mais, pois ela é quem sempre amaria.
O amanhecer das trevas,
Do escurecer do dia,
Do perecer das eras,
Da reencarnação que viria.
Até o último raio solar,
Até a última gota de água potável,
Até o último dia a se amar,
Até o último ar respirável.
Independente da dificuldade,
Independente de quem atrapalhasse,
Independente da calamidade,
Só importa que ela sempre me amasse.
O que constrói,
O que destrói,
Tudo por ser a única que me fez herói,
Meu e dela.