Meu lar
Talvez eu ainda sinta falta daquele sorriso bobo, daquele abraço esfomeado, que me engolia o corpo todo em um embaraço constante de nós
Daquela certeza de nada, que parecia se encaixar tão bem na nossa trama
Daquele silencio e do bagunçado da cama
Até da saudade que eu sentia, eu sinto falta
E sinto estranhesa, porque eu tinha certeza que não sentiria
Dos estalados dos beijos molhados e cartinhas secretas de amor
Da sintonia do olhar denunciado e seu perfume entranhando em mim
Do consolo dos seus ombros tão largos que cabiam todas as minhas inseguranças
Das noites trocando lembranças e trançando rotas sem fim
De repente a minha vida passou a ter um propósito e mesmo sem querer advinhar a direção, era obvio que você estaria no banco do carona, não havia lugar para mais ninguém
Talvez eu ainda sinta falta, sua falta, falta do que nos foi roubado, raiva do destino interrompido
Talvez negar seja a minha forma de sobreviver nesse meu quarto escuro sem a sua luz
Eu construí um mundo solido aqui dentro, com espaço apenas para um, mas você foi entrando lentamente e reprojetando tudo a sua maneira, projetando uma nova estrutura, firme
Agora eu estou tendo que morar aqui dentro sozinha de novo e não é como se eu não pudesse viver sem você, não sou tão romântica assim
Mas é como se mesmo morando em outra casa, você ainda aluga-se parte de mim