HORA LÍQUIDA

Ele se desculpa ao revelar,

apesar do seu medo extremo,

da sua raiz confusa,

hoje sobreveio;

ele se desfez no corpo dela

pela primeira vez.

Amar supõe uma dissolução,

ou algo certamente se derrete.

Isso quer dizer

uma parte caule se mantêm em um lugar comum,

todo o resto se dissolve na básica ocasião.

Ela inversamente sentiu algo diferente.

Embora sempre tenha gotejado,

embora seus sorrisos

sempre tenham irrigados batons,

hoje havia só questões:

"Onde ela estava?

Por que tudo se fixou em rocha, paredes?

Fixou-se naquilo que é alcunhado recife?

Por que a dispersão proposta

não lhe veio como onda intensa

não lhe chegou como a sua lava vulcânica feminina?"

Ele não pôde responder.

Amar ali foi o seu momento disperso

sua nobre condição de poço

que refletiu uma lua eternamente fluída.

Ele se tornou bem vindo

naquela hora líquida,

pela primeira vez mistura.

Ela foi a fonte disponível,

pôde se salvar contido nela.

DO LIVRO: ADVERSOS E OUTROS MOMENTOS

Paulo Fontenelle de Araujo
Enviado por Paulo Fontenelle de Araujo em 01/01/2019
Reeditado em 09/05/2021
Código do texto: T6540058
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