Pergunta
A derradeira pergunta,
a questão fria e lúcida,
capaz de fazer arder
da cabeça aos pés,
de colocar em enlevo
a alma e no inferno
a tez... foi-me feita
em suplício...
Eis que alguém perguntara
se amo alguém.
Espírito silente rasgando
a dor em meu coração
se fez... roubou-me
as palavras, desviou-se
a lucidez. Dissimulando a
angústia que me invade, disse
eu não amar a ninguém...
Infeliz engano, porém,
achar que dizer não
me dará um talvez...
Pois mesmo que os céus
hoje se mudem
e o evo se faça origem
outra vez... não adianta...
eu amo... desde que sou eu...
desde que surgiu o tempo.
E a amarei, quando não
me pertencer mais o tempo...
No fim, nós... mesmo na ausência
das palavras.