DEBRUCEI-ME
Debrucei-me por teu suor
Como quem navega
Um mar tocando o fundo
Sentindo o sal
Sem faltar respiração
Debrucei-me por teu amor
Como quem se entrega a própria morte
A deriva na própria a sorte
De fitar-te diante de mim
Um ser menor que a vida que tem
Que os anos levam
Que o tempo apaga
Que a terra corrói
Eu, porém tive tempo de deleitar-me
Sobre ti
E tudo era o fim em si
A razão não mais possuí
Deixei-me carregar pelas asas
De meu mais belo sonhar
Minha tão bela flor
Debrucei-me
E deitei-me
E saciei-me
E rompi!
Rompi em ti o desgosto de chegar ao fim...
O amor permanece em mim
Mesmo que tu não estejas
Como uma nuvem
Que olho e brinco as formas
Como um céu a me salvar
Contento-me com as tuas lembranças
Debrucei-me sobre tua superfície
Superfície vasta
Na realidade vaga
Despertei enfim de mais um sonho
Lentamente, vagarosamente.