Saindo do “quem sou eu?” e indo para o “quem és tu”?
Não, eu não estou apaixonada por ti
Eu estou apaixonada apenas por uma parte de ti
Aquela parte de ti que interage comigo
Aquela parte de ti que mostras para mim
O resto de ti eu não conheço
Jamais conhecerei
Mesmo que eu tivesse o anel de Gyges, eu não poderia conhecer-te
És muito mais do que os meus cincos ou seis sentidos podem captar de ti
És muito mais do que as tuas ações manifestas aqui na Terra
Cada homem e cada mulher possui um misterioso universo interior, acessível somente em partes pelos outros
Jamais plena e completamente acessível
Pois só cada um pode conhecer a si mesmo totalmente
Só tu tens o privilégio de te conheceres plenamente
Não sei quem és tu, jamais saberei
Serás um eterno mistério para mim
Mas insisto em perguntar
Por fim, quem és tu?
És uma incógnita, como cada ser humano
Mas, paradoxalmente,
Também és apenas a impressão que geras nos meus sentidos e mais nada
És uma farsa, uma mentira
Não és objetivo
E eu estou apaixonada por algo subjetivo
Mesmo não idealizando, mesmo me abstendo da imaginação e da memória
Ainda sim és subjetivo
E “és” perfeito
A perfeição acontece quando a visão, a audição, o olfato, o paladar e o tato entram em contato com estímulos sensoriais prazerosos
Tu és o meu estímulo sensorial prazeroso
Não passas disso e ao mesmo tempo ultrapassas a tudo isso
(2017)