Dopamor
Os meus pesadelos
São o meu despertador
Como os gritos matinais
Acordam os bairros mais pobres
Um alvorecer alternativo
De crianças que pedem arroz
Perdem a voz fazendo a vez
Do galo que mataram
Hoje cantam para esquecer
Sem encantar ninguém
Esquecer a triste fome
A fome que não some
Só o sono perfeito
O refastelo consigo
Quando fujo de mim
E vens dormir tu comigo
As almofadas não chegam
Nem o frio do ar
Se antes que eu feche os olhos
Não te possa abreijar
Os cobertores não levam
O desconforto do escuro
Quando sei que não são tuas
As vozes que ouço
Teu pescoço não delgado
Mas cheiroso e limado
Já não posso esquecer
Ou ficar dele afastado
Tua boca me dopa
A insónia faz-se dormir
Minha roupa do medo
Teu aconchego faz despir
Os meus pesadelos
São a ausência do teu corpo
Ou que venha a tua imagem
Para eu me deitar em paz.