Doação

Estranha ordenação a que me dôo

num rito de sílabas e pétalas,

jurado e prometido,

concedido e consagrado

aos votos de perpétua comunhão.

Fiel a ti no santo ofício da palavra,

na extrema devoção

que te canta nas ermidas do poema

e se exila na clausura da insônia

a purificar-se jejuando a vida

pra viver em ti

a breve eternidade permitida.

Eu declino de todos os fascínios

que me tentam,

do belo todo que me goza,

abro mão da lua nova nas alcovas,

abstenho-me dos encantos passageiros

pra viver o infinito arrebatado

nos momentos de esplendor que perpetuamos.

Ah, unidade em nós glorificada,

bênção celestial ungida a beijos

na sublime sagração dos que se entregam

em corpo e alma

e fazem do amor exercitado

crença, fanatismo e religião.