Amar! De que maneira posso amar
Amar! De que maneira posso amar
no devido tamanho que o amor pede
se esse tamanho em tanto amor me excede
bem como a meu abraço excede o mar?
Ao mar! Ao mar me lanço a me salgar
pretendendo que um deus por mim me vele
mas Netuno, o tridente, não me impede
de me encontrar com feras e afogar.
Nadar! Os perdulários sustentáveis,
estes alugam barcas para o amor
e colecionam bodas confortáveis.
Mas eu! Pobre mortal e perdedor,
se venho a amar porções intermináveis
de oceano, é sem prova de valor!
Sei que devo provar meu coração
às ações mais que à crédula palavra
mas não tenho nem arco, nem aljava,
nem alforje, nem pedra à minha mão!
Nem ouro que mudasse a condição,
nem talento, nem voz, nem mesmo brasa,
não tenho mais que o amor de um fantasma,
um fantasma de amor, uma ilusão.
Dissera que daria um áureo leito
semelhante ao de Febo, mas menti
a tempo de um relâmpago em meu peito.
Fui como Faetonte, pois senti
que a honra me viria sem o feito
e, a despeito da luz do Sol, parti.
Penso que esta pobreza nos condena
à miséria da crença pela fé,
própria de quem faz parte da ralé:
do Amor verás parcela mui pequena.
Mas se aceitas tamanha dor terrena,
levo-te à praia e mostro-te a maré
para que molhes teu formoso pé
e olhes do pôr-do-sol a pulcra cena.
O Sol, que não pertence a teu parceiro
para que possa dá-lo todo a ti,
ainda é nosso enquanto houver um beijo.
E o mar, que atravessar eu prometi
sem pensar no possível, no direito,
é pequeno se em olhos teus me vi.
5,6/12/2018