MEMÓRIA

Há de se lembrar do palhaço,

das caras pintadas, do estardalhaço.

Há de se lembrar dos meninos,

que tinham vida, tinham destino.

Há de se lembrar da mulher amada,

nos sonhos castos tão desejada.

Há de se lembrar das foscas luzes,

do perfilado irregular das cruzes.

Há de se lembrar das rotas vestes,

que cobrem os corpos, desnudam as pestes.

Há de se lembrar das vezes tantas,

em que as palavras morriam na garganta.

Há de se lembrar dos poetas,

às vezes sem causas, outras sem metas.

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