CIÚMES DAS AVES
Não gosto dessas aves enxeridas
Que posam de mostradas, exibidas,
Em frente à janela, à tua vista.
Prefiro as simples, as mais modestas,
As que nos campos é que fazem festas
Que não bancam jamais o tipo “artista”.
Sinto ciúmes do sabiá, do curió...
Até do beija-flor, que não têm dó
de mim, só, sem nada, nesse abandono.
Ah! que chatos são esses passarinhos!
Melhor fossem cuidar lá de seus ninhos,
Pois a moça da janela já tem dono.
O mundo é tão grande, as árvores são tantas,
São tantos os galhos... e, também, quantas
Frutas pendem de fruteiras, pelas matas!
Mas não, esses alados tudo deixam ao léu,
E se põem a saltitar debaixo desse céu,
Desse pedaço de céu onde te achas.
São todas exibidas, todas elas,
E cuidam de cantar para as donzelas,
Que imaginam carentes de atenção.
Quem sabe até desprezam seus filhotes
E ficam se amostrando, de fricotes,
Como paqueradores sem noção.
Mas, tudo bem, as aves são mais belas,
São livres pra escolherem as janelas
E a moça pra quem querem se mostrar.
Se asas eu tivesse e voar soubesse,
Seria em mim que porias teu olhar.
Seria a mim que ias paquerar.