OS GIGANTES
Os gigantes do silêncio moem areia e cal e cimento
e constroem amuradas que tentam impedir o voo do vento;
os gigantes da solidão erguem totens e queimam velas
exigindo que olhares fechem suas ansiosas janelas...
Você, que caminha indo para a casa ver os seus,
percebe nuvens chorando como choram os ateus
quando descobrem que o universo não está vencido:
sempre haverá uma estrela a brilhar no infinito...
Os gigantes que amordaçam verbos intransigentes e intransitivos
criam cemitérios para poemas nascituros e de tal modo imperativos
que poderiam modificar o caminho de um povo, de uma nação,
que gerariam no ventre da luzidia luz o bebê da primeira criação...
Você, poeta, que recolhe miçangas para o colar de palavras,
percebe as estações dos sentimentos subindo e descendo escadas;
então sente a faca da esperança apunhalando o passado vazio,
recolhe carcaças e restos de fonemas, que tiritam, morrem de frio...
Gigantes que falam línguas erguem a nova Torre de Babel
com celofane, celulares, tablet's, orelhas que ouvem ao léu;
ferem a constituição do labirinto e produzem vãs sinfonias
como poetas mortos que rompem a gritar mortas poesias...
Você, que não nasceu ontem, quase um clarividente,
emite o único som da alma feérica que mora em ti,
abre os braços e abraça, como um compasso, toda gente
que te ouve, te escuta, te ama, que vê o amor em ti surgir...