ENTARDECER INDECISO
Na penumbra de um entardecer indeciso,
As nuvens encobriam um céu azul, relutando em se revelar,
As nuvens pareciam queimar naquele horizonte, em seu fogo gelado,
E ele que ostentava uma riqueza em seu colar de pérolas,
Por um descuido a linha estourou e suas contas correram ao chão,
Então, ao busca-las viu que eram sementes mortas e ocas, tesouro de uma ilusão.
Antes que houvesse um amanhã, o doutor tempo sustentou ele em seus braços,
E ele agonizava nos últimos suspiros que alimentava a moribunda esperança,
Na penumbra de um entardecer indeciso,
O calar de quem possuía um colar de pérolas,
Tão falso quanto as histórias por aquela boca prolatada,
Que a alma desacreditada, entregou ao destino a pele dilacerada.
Na penumbra de um entardecer indeciso,
Todas as guerras e vendavais se faziam em silêncio,
E o olhar que desidratou o corpo em conta-gotas,
Não livrou aquela alma de naquele tormento se afogar,
O pescoço nu sem seu colar de pérolas,
Despido como o coração contra o vento a se desesperar.
Tudo desnudo, como o dia em que aquele corpo ao mundo veio,
E a dor parecia um círculo vicioso, que não abandonava em meio ao rodeio,
Até que a pele sem mais perspectiva, que ainda resistia,
Sem esperar, em um novo beijo se vestia,
E não focava mais da penumbra a escuridão,
Mas na suave claridade que guiava ao toque daquela mão.
Na penumbra de um amanhecer decidido,
Alguém olhou para ele, que agora sentia existir,
Sem insistir em recuperar o velho colar de pérolas e sua falsa filosofia,
A nova roupa passou a vestir,
E a guerra silenciosa evaporou no vapor feliz de um sorriso,
Na alegria constante daquele devenir.