ENTARDECER INDECISO

Na penumbra de um entardecer indeciso,

As nuvens encobriam um céu azul, relutando em se revelar,

As nuvens pareciam queimar naquele horizonte, em seu fogo gelado,

E ele que ostentava uma riqueza em seu colar de pérolas,

Por um descuido a linha estourou e suas contas correram ao chão,

Então, ao busca-las viu que eram sementes mortas e ocas, tesouro de uma ilusão.

Antes que houvesse um amanhã, o doutor tempo sustentou ele em seus braços,

E ele agonizava nos últimos suspiros que alimentava a moribunda esperança,

Na penumbra de um entardecer indeciso,

O calar de quem possuía um colar de pérolas,

Tão falso quanto as histórias por aquela boca prolatada,

Que a alma desacreditada, entregou ao destino a pele dilacerada.

Na penumbra de um entardecer indeciso,

Todas as guerras e vendavais se faziam em silêncio,

E o olhar que desidratou o corpo em conta-gotas,

Não livrou aquela alma de naquele tormento se afogar,

O pescoço nu sem seu colar de pérolas,

Despido como o coração contra o vento a se desesperar.

Tudo desnudo, como o dia em que aquele corpo ao mundo veio,

E a dor parecia um círculo vicioso, que não abandonava em meio ao rodeio,

Até que a pele sem mais perspectiva, que ainda resistia,

Sem esperar, em um novo beijo se vestia,

E não focava mais da penumbra a escuridão,

Mas na suave claridade que guiava ao toque daquela mão.

Na penumbra de um amanhecer decidido,

Alguém olhou para ele, que agora sentia existir,

Sem insistir em recuperar o velho colar de pérolas e sua falsa filosofia,

A nova roupa passou a vestir,

E a guerra silenciosa evaporou no vapor feliz de um sorriso,

Na alegria constante daquele devenir.

Leonardo Guimarães Rosa
Enviado por Leonardo Guimarães Rosa em 24/10/2018
Código do texto: T6485063
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