Sobre o que ainda dói aqui...
Hoje não dá para ser concreta, não tem como ser assim há alguns dias
Há alguns dias dói mais do que doía
Dói mais do que a dor antiga
E eu não sei o que fazer, o que dizer, pra onde olhar
Se é só aquele abraço que eu queria dar
Dor ingrata, dor ingrata
Me mostra a crueza do que é
Não me deixa nem me enganar
Dor que não vai, que não me deixa ver o sol de novo
Só me mostra que nada sobrou
Do grande nada que sequer existiu
Tudo passou e eu fiquei aqui, na estação
De passageira de novo
No metrô subterrâneo da minha existência…
Vendo doer algo que vai sem nem ter vindo
Sem nem ter feito nada para ficar…
Dói, dói muito, nem sei porque dói tanto
Sobre aquelas dores que nos fazem questionar tudo…
Que nos fazem nos agarrar ao que dá sentido para poder continuar
Se é dessa dor que nasce a arte,
Que nasce o aprendizado, que nasce a força
Estou velha e sábia para senti-la
Não consigo mais carregá-la
Não sei o que fazer para ela me deixar
Ou dor, ou vazio…
Vazio da dor, causado por ela
Vejo pessoas felizes, leves, conseguindo levar vidas leves…
Em paz tento seguir
Com a dor exposta para não me fechar, me amargurar
A leveza, porém, não foi feita pra mim…
Sonho em ir a lugares que não fui
Sonho tanto em partir, em ir de novo
Não tenho a dureza de coração necessária para viver aqui
Dói viver aqui, dói ser deixada na estação mais uma vez…
Dói ver a porta que eu esmurrei se fechar
Ver a fenda que eu abri no muro ficar aberta
E não ter ninguém do outro lado…
Dói ver a frieza dos corações fechados
Das vidas blindadas, das frases feitas
Pra gente manter a distância
Da mensagem que não é enviada
Da espera que nunca é confortada
Dói a banalização do que somos e de tudo que carregamos
Não jogar e perder pra quem joga
Dói tudo dizer que eu quero só abraçar
E receber só resposta vazia, polida, educada
De distância mantida...
Dói as promessas não terem sido feitas
Olhar para todos os lados e não ver
Olhar para todos os faróis
E nenhum ser aquele que eu mal pude me aproximar
Dói saber que vou me deitar e não vou esquecer
Que vou acordar e vou me lembrar
Que a lembrança é cada dia mais distante
E que nada vai ser revivido…
Dói saber que hoje não esqueci
Que amanhã também não
E que não consigo ainda mensurar
O tamanho do dano que me causou
O quanto ainda vai perdurar
Dói saber que já fui tão longe
Que não tem como voltar atrás
Dói ver quem me tornei com o tempo
E que mesmo que ele passe veloz
Só eu sei o quanto dói não ver o que os meus olhos anseiam
Eu quero ir para outro lugar
Outra dimensão no coração…
Partir dessa estação
Curar a terra, renascer...
Na verdade, eu só quero que pare de doer…
NinaChris
16/10/18 17:33