NOSSO DIA ...



Mandou-me, há dias, o retrato,
— Um belo mimo em platinotipia —
Que eu não canso de ver, e, dia a dia
Mais se me torna bem querido e grato,


A neve anda a branquear lividamente a estrada,
E a minha alcova tem a tepidez de um ninho.
Entra, ao menos até que as curvas do caminho
Se banhem no esplendor nascente da alvorada.


Essas coisas da vida a gente nunca esquece...
Um longo beijo ao luar... uma canção linda...
Num suspiro de amor... num sussurro de prece,
Guardar desse amor, uma saudade infinda...


Alteia-se no azul aos poucos o crescente,
O ar embalsama, os cirros leva, o escuro afasta;
Vasto, de extremo, enche a alameda vasta
E emborca a urna de luz, nas águas da corrente.


E mais ligeiramente a gente esquece
Uma hora que a alma de carinhos vaza,
Que de ter visto, em roxa luz saudosa,
Uma imperial tulipa que já enternece...


O verdadeiro amor não é aquele
Que se alimenta de carinho e beijos
Mas sim aquele; que suporta a renúncia
E consegue viver só na saudade..


Porque já tive um coração um dia,
Que disparava, ou quase se detinha
Se, aos meus braços palpitante vinha,
Tantas ternuras boas, que consumia...


Nestas linhas com o tempo crescerás.
E enquanto nesta terra houver um ser,
Meus versos vivos te farão viver.
Saudade! Desse amor... o teu afago...


O meu carinho... o teu olhar tão lindo...
Parece-me o passado um rio luminoso,
Onde vogo a rever pelas margens, florindo,
A dor que, ao longe, tem as seduções do gozo!


LMBLM

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Luiza De Marillac Michel
Enviado por Luiza De Marillac Michel em 13/10/2018
Reeditado em 13/10/2018
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