Ventania
Faz tempo e eu não sei te desfazer dos meus traços
Sua imagem impregna os meus contornos
A caixa preta das memórias mofadas
Pela chuva fresca das noites de verão
A paz que me invadiu
Também me foi tirada
Na sublimação dos meus desejos
O papel e a caneta que já não bastam
Para comportar as inquietações
Suas palavras tortas
Suas promessas vãs
As meias verdades
Ecoando
Na sinfonia do meu desaponto
Daqui de onde estou
As vezes
Me parece mais seguro
Se não consigo te ver
Nem te ouvir
Nem tocar
Nem sentir
E já não te leio tão bem como antes
Nada posso saber sobre teu coração
Pouco o reconheço
De toda a bondade que por vezes
subverteu ao cinismo
Bem articuladas suas frases ocas
Brincando com a sinceridade
Já não me convencem
Pela incoerência dos teus atos
Os teus olhos
Que ainda me partem em dois
Vem me repelindo aos poucos
com todo a sua apatia
Teu medo de fragilizar
O endureceu um tanto
E essa casca tão bruta
Te distância
Da pureza de sua essência
Eu já não posso esperar
Por alguém que nunca chega
Mas guardo ainda
Toda a bondade que um dia
deixou por aqui
A porta por onde saiu
Continua aberta como de costume
Mas se você não vem
Hoje eu preciso ventar