Inverno
Enfrentei a bravia contenda
de um sentimento cruel e severo
que me pôs nos olhos a venda
de um frio e longuínquo inverno.
Mas o inverno maior que castiga
este ser tão calmo e valente
é a solidão da alma ferida
que segue, da vida, a corrente.
E a feroz corrente da vida
me guiava, vendado e incapaz.
Eu ouvia a sua cantiga
pedindo um pouco de paz.
Mas se foi a venda maldita
e com ela a tristeza e a dor
finalmente jáz esquecida
a solidão que cegava o amor.
E ilumina-se a alma liberta
das vendas e sombrios grilhões.
Finalmente, no peito, desperta
do amor, as felizes canções.
E a ela eu devo os arranjos
da cancão mais sincera e bela,
pois não há, nem mesmo entre os anjos,
que eu ame, alguém, mais que a ela.