o pouco que me restou

há tanta dor
guardada
em apenas dois olhos
e parece que
não há gente
dentro de casa
nesta noite.
então, querida,
veja-se nos reflexos
castanhos,
e não cometa
o erro
de esperar
igual a quem
ainda
está na fila.
porque este sou eu, de braços
cruzados
sabendo que você me vê.
"desperte, meu anjo,"
os sinais batem à porta
quando não há mais ninguém
para dizer o que se deve fazer,
e você também não deve me
ouvir, claro.
porque eu te guardo nestas palavras,
tuas curvas em cada espaço
e os segredos que só o tempo
tem direito.
porque eu te guardo em fotografias
que tirei
em nosso tempo juntos,
em nossa noite juntos.
mesmo que agora tudo tenha ficado
em um passado sem futuro, com cinzas
caindo no chão depois de cada passo.
você não me escreveu mais, e há dias
eu te deixei
na espera que você fosse lembrar de mim
ao se ver por uma vitrine, ou em alguma música
por um verso te chamando atenção.
talvez tenha sido melhor assim.
Cleber Junior
Enviado por Cleber Junior em 27/09/2018
Código do texto: T6461085
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