Amor é tudo o que não era. II
Amor é a estrela que não brilha.
O chiclete no cabelo que não solta.
A verdade ainda que doída.
É o telefone que não toca.
Amor é a fuga da senhora.
Um coração que pulsa, mas quebrado.
É a insistente ideia suicida que não chega.
A fuga que não parte na hora.
Amor é tudo o que nós fingimos.
E as correntes que não repassamos.
É a prece besta para um santo.
É o morder dos lábios na boa hora.
Amor pode ser qualquer coisa.
Inclusive aquele nada que constrange e silencia.
Amor é o roçar das pernas no frio.
E a solidão a noite em casa.
O amor é um tarado no cio.
E os cachorros e suas pulgas saltitantes.
É o embaraçar das palavras fora de hora.
É um coito remendado às avessas.
É a porta que fecha.
É a porta que abre.
É a janela escancarada.
E tudo o que por ela entra.
Amor é um cão dos diabos.